terça-feira, 3 de novembro de 2015

Luto e melancolia

1.    Luto
O luto, pela psicanálise, é reconhecido como o processo que ocorre com um indivíduo após a perda de alguém ou algo – este pode ser um relacionamento, um objeto ou uma atividade geradora de prazer, por exemplo. Assim como a morte de alguém causa o luto em um indivíduo, a “morte” de algo com o qual se estava acostumado, gera uma reação semelhante.
Para Freud (2011, p. 46):
O luto, via de regra, é a reação à perda de uma pessoa querida ou de uma abstração que esteja no lugar dela, como pátria, liberdade, ideal, etc. sob as mesmas influências, em muitas pessoas se observa em lugar do luto uma melancolia, o que nos leva a suspeitar nelas uma disposição patológica. É também digno de nota que nunca nos ocorre considerar luto como estado patológico, nem encaminhá-lo para tratamento médico, embora ele acarrete graves desvios de conduta normal da vida. Confiamos que será superado depois de algum tempo e consideramos inadequado e até mesmo prejudicial perturbá-lo.
Muitas vezes, o ritmo de vida acelerado que a sociedade impõe hoje, força o indivíduo a encurtar, ou até mesmo, não viver seu período de luto. O luto não está completamente superado e já há uma cobrança – interna e externa – para que a determinada perda seja substituída por outro algo ou alguém, independentemente de sua tamanha importância e sua real necessidade. Quando o processo é vivido, devidamente sentido e, por consequência, superado, a própria libido se encarrega de substituir o objeto amado por algo que realmente lhe desperte energia e assim a vida pode seguir de uma maneira funcional e saudável, afinal, a substituição foi feita naturalmente, não como uma forma de imposição.
O luto não deve ser evitado, ele precisa ser vivido para que então possa ser superado, caso contrário, ele pode aparecer ou retomar muito tempo após a perda e, então, ser ainda mais difícil e demorado seu diagnóstico – visto que é comum que ele se manifeste e permaneça entre 6 e 24 meses após o evento traumático – caso ele permaneça após este período, é necessária uma maior atenção com o indivíduo.
Durante o processo de luto, o ódio se direciona ao objeto perdido, já na melancolia, o ódio volta-se ao Ego. Enquanto um culpa o outro, situações externas, o outro atrai para si toda a culpa pela perda, sua falta de capacidade em manter o objeto de amor, encara a perda como um castigo devido não ter tido a capacidade de manter o cuidado necessário. Apesar desta observação de Freud, o luto não é considerado patológico. “O luto normal também supera a perda do objeto e enquanto dura ele absorve igualmente todas as energias do Ego”, Freud (2011, p. 76).
 Freud observou cinco passagens de estados do indivíduo que está passando pelo processo de luto, são estas:
Ø  Negação e isolamento: a não aceitação da realidade;
Ø  Raiva: questionar o quanto a perda é justa;
Ø  Barganha: geralmente ocorre uma aproximação a religião – promessas;
Ø  Depressão: onde passa a haver consciente da situação, que se mostra irreversível;
Ø  Aceitação: a continuidade ou a busca por uma nova rotina.
Melanie Klein apresenta para os estudos dois novos objetos: a posição esquizoparanóide e a depressiva, que estão relacionadas ao desenvolvimento (não pleno, ou até mesmo a fixação) das fases infantis oral e anal, respectivamente. A primeira é uma combinação entre os impulsos destrutivos onipotentes, a ansiedade persecutória e a cisão predominam nos primeiros três meses de vida. Já a posição depressiva está ligada a ansiedade vivida pela criança, que, na teoria kleiniana, inicia a formação de seu Superego por volta do sexto mês de vida, assim, o bebê começa a temer pelo estrago que seus impulsos destrutivos e sua voracidade podem causar, ou podem ser causa, aos seus objetos amados, vivenciando o sentimento de culpa e a necessidade presente de preservar esses objetos e de repará-los pelo dano feito.
 1.1 Melancolia
Para Roudinesco e Plon (1998 [1944], p. 505):
Termo derivado do grego melas (negro) e kholé (bile), utilizado em filosofia, literatura, medicina, psiquiatria e psicanálise para designar, desde a antiguidade, uma forma de loucura caracterizada pelo humor sombrio, isto é, por uma tristeza profunda, um estado depressivo capaz de conduzir ao suicídio, e por manifestações de medo e desânimo que adquirem ou não o aspecto de um delírio.
Em muitos casos, após o processo de luto, é identificada a melancolia, ela seria uma espécie de luto continuado, porém, mais severo. Esta pode ser caracterizada como um princípio de depressão, visto que suas características são o desânimo, o desinteresse por atividades antes geradoras de prazer, depreciação de si e uma fixação exacerbada no objeto perdido.
Em casos de morte, é comum que o sujeito acometido pela melancolia não permita mexer ou doar qualquer pertence da vítima. Em fins de relacionamentos, histórias fantasiosas e a insistência em retomar a relação podem culminar em crimes passionais, movidos pela depressão – pelo desejo de pôr fim em sua dor.
Para Freud (2011, p. 44), “a melancolia, cuja definição conceitual é oscilante, mesmo na psiquiatria descritiva, apresenta-se sob várias formas clínicas, cuja síntese em uma unidade não parece assegurada, e dentre estas, algumas sugerem afecções mais somáticas que psicógenas”.
Diferentemente do processo de luto, para Freud, a melancolia pode ser considerada patológica, pois ela está relacionada com a perda de um objeto que fazia parte do Ego, aí então a dificuldade em substituir e ressignificar o objeto, ou seja, reconstituir o Ego que foi diretamente atingido e já não consegue mais executar em plenitude suas tarefas. “O conflito no Ego, que melancolia troca pela luta em torno do objeto, tem de operar com uma ferida dolorosa, que exige um contrainvestimento extraordinariamente elevado”, Freud (2011, p. 84). Neste momento aparece a culpa e agrava-se a depreciação contra si, devido à fragilidade apresentada pelo Ego (a fragilidade do Ego pode levar até sua morte, esta, que culmina no suicídio, onde não é mais visto pelo indivíduo uma razão para viver) – muitas vezes, a tentativa do mesmo pode ser um processo histérico, onde não há a busca pela morte e sim o objetivo de tornar-se vítima e conquistar a atenção vista como necessária.
Esta perda acarreta na perda pulsional, na perda de amar, inclusive a si mesmo, pois não há mais uma completude. Acontece neste momento um autoexame muito severo, fazendo com que o ódio se volte ao Ego - contrário ao processo de luto, onde o ódio volta-se ao objeto de amor até aquele momento.
Sobre a diferença entre luto e melancolia, Freud (2011, p. 46):
A melancolia se caracteriza por um desanimo profundamente doloroso, uma suspensão do interesse pelo mundo externo, perda da capacidade de amar, inibição de toda atividade e um rebaixamento do sentimento de autoestima, que se expressa em autorecriminação e autoinsultos, chegando até a expectativa delirante de punição. Esse quadro se aproximará mais de nossa compreensão se considerarmos que o luto revela os mesmos traços, exceto um: falta nele a perturbação do sentimento de autoestima.
Assim, o melancólico torna-se desleixado com si mesmo, com sua saúde, aparência, pois não há mais a pulsão de vida atuante nem a libido como fonte de energia e condução para suas ações. Seria assim, uma maneira do Ego se vingar em si mesmo pela perda, pois ele foi o culpado da mesma, de seu abandono e falta. Para Freud (2004 [1915], p. 146), “a pulsão nunca age como uma força momentânea de impacto, mas sempre com uma força constante. Como não provém do exterior, mas agride a parte interior do corpo, a fuga não é de serventia alguma”.
Em casos de depressão ou lutos prolongados e melancolias profundas, a psicanálise toma como ajudantes as psicoterapias e as drogas controladas pela psiquiatria – visto que o mal psíquico já conseguiu tomar conta do corpo e também deixá-lo debilitado, tornando quase que impossível a melhora – a cura – do indivíduo por meio dos insights possibilitados através da psicanálise.
1.2 Arte melancólica

            Edvard Munch (1893-1944) foi um pintor norueguês que se mudou para Paris em busca de aperfeiçoamento para sua arte, lá teve contato com suas grandes influências: Picasso, Toulouse Lautrec, Gaughin, Van Gogh e Seurat. Munch retornou à Noruega em 1908 e lá se estabeleceu com um dos expoentes da corrente artística do expressionismo.

Sua obra mais famosa é o quadro “O Grito" (Anexo A), pintado em 1895, representa um dos símbolos artísticos do século 20. O sentimento de angústia e desespero representados na obra leva a crer que ela, segundo muitos críticos, é uma das sínteses artísticas da modernidade, época em que ocorreram duas grandes guerras e o surgimento de regimes totalitários, como o comunismo.

A vida difícil de Munch refletiu-se em sua obra. Perdeu a mãe e duas irmãs ainda criança e foi criado por um pai controlador. O pintor também não tinha boa saúde e a morte foi praticamente uma presença constante em sua vida. Suas últimas obras continham os sentimentos que lhes eram comuns: o medo de forças da natureza, da morte e a melancolia.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

A figura da mulher a partir da psicanálise

                                                                                     Imagem: Reprodução Internet

Freud viveu em uma época onde a mulher era sinônimo de inferioridade. Já existiam figuras femininas que desafiavam este estereótipo, porém, ainda eram minoria. A histeria, doença vista na época exclusivamente das mulheres, estava, para os médicos, relacionada ao útero. Freud, através da hipnose e, posteriormente, a psicanálise, curou mais de uma paciente acometida pelo mal. Mais adiante, a psicanálise não mais trata a histeria como algo exclusivamente feminino, existe também o histriônico – o homem histérico.
Apesar de ser muito criticado por não ter se aprofundado no Complexo de Electra – a versão feminina do Complexo de Édipo – e, principalmente, por ter seus escritos interpretados como “a mãe é a grande culpada”, Freud – talvez pelo seu grande amor para com sua mãe – em relatos de seus casos clínicos, não faz distinção entre gênero. O próprio médico, de uma maneira discreta, assumiu que o universo feminino é muito mais complexo que o masculino, o que não faz dele pior ou indigno. Para ele, "a grande questão continua sem resposta e a qual eu mesmo não poderia jamais ser capaz de responder apesar dos meus trinta anos de estudos sobre a alma feminina: O que quer uma mulher?"
Talvez a resposta possa ser dada assim como é dada para o universo masculino, os desejos presentes dependem e se correlacionam com experiências passadas. Vale ressaltar a questão da castração, onde o menino é castrado pelo pai, já a menina, ao comparar seu corpo com o masculino, percebe que já foi castrada. A mulher, então, carrega uma culpa, pois, ao se dar conta da castração, ela já havia ocorrido, assim, busca uma resposta para algo que já aconteceu. Enquanto, o homem, vivencia este momento.
Em outro momento, Freud retrata a constituição familiar da época, porém, podemos perceber que atualmente ainda existe muito forte esta cultura de família retrograda:

"O macho tinha um motivo para manter ao seu lado a mulher ou de forma mais geral os objetos sexuais; as fêmeas que não queriam se separar de suas crias deixando-as descuidadas, suportavam assim, no interesse daquelas, ficar próximas ao macho, o mais forte".

     Ao longo deste trabalho sobre violência doméstica, principalmente, pode-se perceber que muitas mulheres ainda suportam todo tipo de violência por parte do parceiro – as vezes pai de seus filhos, outras não – justificando ser o melhor para os filhos, ter uma família composta por pai e mãe. Neste discurso feminino pode-se questionar vários elementos.
O primeiro deles: realmente é saudável para as crianças viver em um ambiente onde a atmosfera é carregada de ódio, raiva, dor? Segundo ponto: o desejo de possuir uma família vista como completa e tradicional, é das crianças ou da própria mãe – seja por ela ter crescido desta maneira ou desejando criar algo diferente do que viveu? Terceiro aspecto: esta mulher, optando pela coragem de libertar-se do parceiro, terá condições financeiras de sustentar seus filhos dignamente?
Com foco neste último item, muitos homens violentos, justamente buscando ter total controle da relação, não permitem que suas esposas estudem ou trabalhem, assim, elas ficam reféns não somente do amor, mas do dinheiro. Enfim, ao tentar reintegrar-se na sociedade, uma mulher sem estudo e sem experiência, consegue um cargo com remuneração baixa e vê seus filhos – normalmente mais de uma – sofrendo agora com a falta de bens materiais, entre eles, o principal, o alimento.

Existe também a questão de que as mulheres, independentemente da função, são menos remuneradas que homens. Neste ano de 2015 o assunto tomou grande proporção após a cerimônia anual do Oscar – onde a atriz, uma das vencedoras do prêmio, Patrícia Arquette, fez um discurso, não feminista, mas contra o machismo. Nele, ela apontou que inclusive as maiores estrelas de Hollywood são discriminadas. A revista americana Forbes – conhecida por divulgar valores recebidos por grandes personalidades mundiais – divulgou em agosto que a diferença entre o cachê do ator e da atriz mais bem pagos é cerca de 30 milhões de dólares.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Perversões e parafilias

Uma leitura psicanalítica da trilogia "50 Tons de Cinza"
Capítulo 3: PERVERSÕES E PARAFILIAS



Laplanche e Pontalis (1992, p. 341) definem perversão como sendo o:

Desvio em relação ao ato sexual normal, definido este como coito que visa a obtenção do orgasmo por penetração genital, com uma pessoa do sexo oposto. Diz-se haver perversão: onde o orgasmo é alcançado com outros objetos sexuais ou através de outras regiões do corpo onde o orgasmo acha-se totalmente subordinado a certas condições extrínsecas, que podem mesmo ser suficientes, em si mesmas, para ocasionar prazer sexual. Num sentido mais abrangente, perversão tem a conotação da totalidade do comportamento psicossexual que acompanha tais meios atípicos de obter-se prazer sexual.

Ressalta-se que na mesma publicação há um novo dado, onde:

Em 1987, sem a menor discussão teórica, o termo perversão desapareceu da termologia psiquiátrica mundial e foi substituído por parafilia, na qual não mais se incluiu a homossexualidade. [...] Freud conservou o termo para designar os comportamentos sexuais desviantes em relação a uma norma estrutural (e não mais social) e nela incluiu a homossexualidade, da qual fez uma perversão do objeto caracterizada por uma fixação da sexualidade numa inclinação bissexual.

            Logo em seguida, em 1990, a Organização Mundial da Saúde – OMS, retirou da homossexualidade a condição de patologia. A partir deste tema, pode-se observar como Freud estava além do seu tempo. O médico, ao observar não somente o padrão imposto socialmente da época, ia além da medicina tradicional.
            Mais uma vez, fica claro que o prazer, para a psicanálise, está muito além de um ato físico, seja para o homem ou para a mulher – e independente deste prazer ser procurado e sentido na unidade do próprio sujeito, com uma ou mais pessoas, também aceitando a presença de objetos. Pode-se dizer, então, que, todo sujeito possui um lado perverso – ao menos no âmbito sexual.
            Sobre a parafilia principal apresenta aqui neste trabalho, o sadomasoquismo, Freud (1905 [1974], p. 149) sustenta que:

A particularidade mais notável dessa perversão reside (...) em que suas formas ativa e passiva costumam encontrar-se juntas numa mesma pessoa. Quem sente prazer em provocar dor no outro na relação sexual é também capaz de gozar, com prazer, de qualquer dor que possa extrair das relações sexuais. O sádico é sempre e ao mesmo tempo um masoquista, ainda que o aspecto ativo ou passivo da perversão possa ter-se desenvolvido nele com maior intensidade e represente sua atividade sexual predominante.

            Esta definição dada por Freud costuma frustrar um tanto quanto aqueles que se intitulam sadistas ou masoquistas, afinal, na prática, direta, consideram-se adeptos de uma única fonte de prazer, onde, na verdade, o prazer está ligado a diversos objetos – considerando pessoas e itens inanimados realmente.
            O desejo pela dor – sofrer ou causar – não está somente na dor física, mas, na necessidade em punir ou ser punido presente no inconsciente do indivíduo. As marcas deixadas na pele e os riscos corridos durante a prática fazem parte do universo dos perversos. Aqui, o prazer não é somente físico, assim como o sofrimento. A degradação, muito citada em Sade, é grande estimulante para os praticantes do sadomasoquismo – colocar o outro em situação de risco ou humilhante, exalta a necessidade da busca pelo poder em um âmbito que pode ser conquistado.
            Sade, um rico marquês francês, tinha ao seu alcance dinheiro e poder, mesmo assim, era adepto das práticas perversas sexuais. Ele buscava algo diferente do que estava lhe sendo ofertado com facilidade, seu consciente estava satisfeito, porém, ele ainda sentia uma falta, um vazio, este que foi preenchido com o sadomasoquismo entre outras fantasias e desejos colocados em prática com homens e mulheres.
            Para Freud, (2007 [1924], p.111):
             
O masoquismo moral caracteriza-se principalmente pelo fato de que nela se afrouxa a relação com o que habitualmente reconheceríamos como pertencente ao campo da sexualidade. Nele não encontramos a condição básica de todos os outros sofrimentos masoquistas, isto é, que eles sejam causados pela pessoa amada e suportados somente porque se emanam. Aqui é o sofrimento que importa, parta ele da pessoa amada ou de uma figura qualquer. Ele pode ser provocado por forças ou contingencias impessoais. Não faz a menor diferença, o verdadeiro masoquista, sempre que houver oportunidade, oferecerá a outra face. Assim, parece evidente que, neste caso, deveríamos deixar a libido de lado e nos restringirmos à suposição de que aqui a pulsão de destruição foi novamente redirecionada para dentro e atua violentamente contra o próprio Si-mesmo [Selbst]. Por outro lado, não devemos deixar de notar que, no uso linguístico corrente não se afrouxou a conexão desta forma de comportamento com o erotismo, pois se designa também essas pessoas auto-destrutivas de masoquistas.

Conforme já citado, e reforçado a partir de Freud, o masoquista busca o sofrimento quando vê oportunidade, ele sente a necessidade de punição, de ser castigado – este desejo está ligado a fase infantil do Complexo de Édipo e da castração. Para a psicanálise, toda a energia tem origem na libido, ou seja, todo ato e desejo possui um caráter sexual – mesmo que inconsciente e/ ou sublimado. Ressalta-se, que, para a psicanálise, sexual não está diretamente ligado com sexo. A libido busca o prazer, seja ele sexual, profissional, ou qualquer tipo de reconhecimento, esporte, entre outros – afinal, cada indivíduo é único, assim como seus desejos.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Apresentação

    Depois de mais de um ano de blog, enfim, venho me apresentar - brevemente: Christiane Theiss, satisfação. Minha formação superior é em comunicação social - jornalismo - daí o gosto pela escrita, porém, caminhando na profissão, percebi que o gosto pela escrita era específico por um tema: comportamento. Criei coragem e voltei às salas de aula, psicologia e psicanálise - pela qual me apaixonei por completo. Após especialização e mestrado concluídos - com estágio de acolhimento, me sinto apta a iniciar a clínica, infantil e adulta.
  Saí do meu estado de origem, Santa Catarina, em busca desta formação e reconhecimento da profissão. Conquistei ambos. Hoje resido na capital do país, assim, estou à disposição para contatos que buscam a clínica individual ou workshops e palestras.



quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Redes Sociais



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terça-feira, 13 de outubro de 2015

A visão psicanalítica sobre a autora e os leitores de "50 Tons de Cinza"

Uma leitura psicanalítica da trilogia "50 Tons de Cinza"
Capítulo 2: A VISÃO PSICANALÍTICA SOBRE A AUTORA E OS LEITORES

                                                                                                                    Imagem: Reprodução Internet

            A trilogia 50 Tons de Cinza é a primeira obra literária de uma profissional da área educacional – também já se aventurou pelo campo da televisão. Erika Mitchell, ou simplesmente E. L. James, uma inglesa na faixa etária dos 50 anos, casada e com um filho de 20 anos, define sua obra como: “está é a minha crise de meia idade, com letras maiúsculas”.
            A partir dos dizeres da autora e de sua obra, é possível conhecer um pouco mais sobre sua personalidade. Ou, melhor, é possível especular e muito sobre o surgimento de tamanha riqueza de detalhes. Não se pode negar, existem autores clássicos com tamanha facilidade na escrita, porém, estes também colocam um pouco – ou muito – de si em suas obras.
A psicanálise, ao tratar da sublimação, enfoca justamente o deslocamento da energia libidinal para atividades como o trabalho. Parece este o caso de James, porém, não de uma forma inconsciente. Os desejos de uma mulher, não somente seus próprios, mas também aqueles ouvidos durante uma vida toda de amigas, colegas, e, até mesmo, a mescla de outros personagens fictícios. Há uma condensação de desejos e fantasias no imaginário – inconsciente – e, então, eles explodem, mesmo sublimados. Exteriorizar de forma literária, fantasiosa, é uma maneira de obter prazer, a maneira na qual Id e Superego encontraram de se satisfazerem.
Para Roudinesco (1998, p. 171):

A teoria da sexualidade também sofre uma torção: despejada na sublimação, a libido assegura uma dessexualização das pulsões agressivas. Quanto mais forte é o eu, mais ele reforça seu quantum de energia neutralizada. Quanto mais ele é fraco, menos funciona a neutralização.

As instâncias psíquicas buscam o prazer, porém, cada uma à sua maneira. Neste caso, pode-se especular que o Superego não permitiu que o Id realizasse as fantasias sadomasoquistas, então, surgiu a oportunidade de um terceiro realizar, Anastasia. Mesmo assim, ao transferir esta realização, sendo que o mandante continua sendo a autora da obra, há também a obtenção do prazer.
É possível também observar os prazeres secundários obtidos através da obra. Dinheiro, fama. Afinal, no ano subsequente de lançamento de seu primeiro livro, 2012, James foi considerada, pela revista Tempo, uma das 100 pessoas mais influentes do mundo. O prazer em ser reconhecido é também considerado uma espécie de sublimação.

> A relação das instâncias psíquicas com o princípio do prazer

            O Id, o Ego e o Superego são as três instâncias do aparelho psíquico que “controlam” cada indivíduo. Com esta tópica Freud fez cair por terra um dos últimos poderes que restavam ao homem – após Copérnico e Darwin – a do autocontrole. Com a apresentação das três instâncias, o médico deixou claro que não há um controle absoluto sobre as ações, há, sim, um movimento do aparelho psíquico durante cada tomada de decisão.
O Id - que está mais para o inconsciente – está relacionado com os desejos, libidos, a busca prelo prazer – o princípio do prazer. O Ego está mais para o princípio de realidade, logo, o consciente – ele faz as mediações entre prazeres e realidade. Acompanhando os dois, está o Superego, este que faz o papel mais rígido, é o mais racional, aquele que condena, reprime, proíbe.
Todo indivíduo possui uma das três instâncias mais fortes, porém, para manter a saúde mental, é preciso que elas consigam trabalhar em grupo e possa sobressair, no momento oportuno, a que melhor trará uma solução para o indivíduo – sem gerar culpa ou angustia – possíveis causadoras de uma futura neurose.
 Na fase adulta, após vivenciar as fases oral, anal e fálica, um indivíduo saudável – que conseguiu superar todas as fases – encontra-se na fase genital, onde o objeto de prazer já não é mais interno e sim externo, o outro. Na fase adulta também, o princípio do prazer infantil é substituído pelo princípio de realidade – onde o indivíduo compreende que nem todos os seus desejos podem ser atendidos fidedignamente a sua fantasia delirante inconsciente e carregada de libido.
Diferentemente do que possa se pensar inicialmente, o prazer não está ligado a um aumento de excitação. O prazer é sim uma descarga de energia, ou seja, uma diminuição da excitação. O auge, o ápice, do prazer seria um acúmulo de energia, gerando excitação, inquietude, buscando, então, a calmaria e tranquilidade de libertar estes desejos.
Assim, pode-se enxergar o princípio do prazer que, em um indivíduo com devido funcionamento psíquico, será substituído em sua vida adulta pelo princípio de realidade. O princípio do prazer está relacionado ao momento infantil – seja na infância ou não. A busca pelo prazer sem medir consequência, sem passar pelo crivo de Ego e Superego. Já o princípio da realidade, quando ativo e em pleno funcionamento, busca, também, o prazer, porém, de uma maneira mais contida e realista, pode não alcançar, em vista ao princípio do prazer, um desejo tão intenso, porém, não será acometido pela culpa – gerada pelo Superego – após a realização e o alcance do prazer sem medidas.
Conforme Freud (1937, v. 23, p. 198):

O id obedece ao inexorável princípio de prazer. E não apenas o id. Parece que a atividade dos outros agentes psíquicos também é apenas capaz de modificar o princípio de prazer, mas não de anulá-lo; e permanece uma questão da mais alta importância teórica, e uma que ainda não foi respondida, quando e como seria possível, em algum momento, o princípio de prazer ser superado.

É no período da infância que a criação conhece os prazeres e desprazeres. Por exemplo, durante a brincadeira com o carretel observada por Freud, o citado por ele como "fort da". A criança aprende que o brinquedo se vai, ao ser jogado, porém, ele volta. Ele descobre o poder que ele próprio possui de distanciar algo dele e, posteriormente, trazê-lo de volta. Bem como o prazer e o desprazer da presença da mãe ou cuidador. Há o prazer em tê-lo presente, logo seguido do desprazer em não possuí-lo todo o tempo e sim, quando lhe é possível. Esta brincadeira torna possível e reconhecível logo nos primeiros anos o tamanho prazer gerado pela volta do objeto amado, do objeto de desejo – a tal saudade, existente somente no vocabulário brasileiro, porém, citado nas demais línguas como o sentir falta.
A energia, então, armazenada no Ego, está sempre focada em algo bom – direta ou indiretamente. Ao observar um comportamento, principalmente aqueles de repetição, o sujeito está buscando algo que, em um determinado momento, lhe foi bom. Este comportamento pode demonstrar que o presente momento de vida não está agradável, pois está sendo buscado algo do passado para ser retomado.
A energia catexizada em algo não pode ser utilizada em outra atividade, ela está ali, presa, até ser realocada, direcionada corretamente, ou então conseguir alcançar seu objetivo que é a explosão de prazer que busca através daquele ponto desejado.
Esta energia, para Freud, é a energia libidinal. O autor dá à libido um novo significado: “a manifestação da pulsão sexual na vida psíquica e, por extensão, a sexualidade humana em geral e a infantil em particular, entendida como casualidade psíquica (neurose), disposição polimorfa (perversão), amor próprio (narcisismos) e sublimação”. O termo, anterior a psicanálise, designava uma energia própria do instinto sexual, conforme Roudinesco (1992, p. 471).


>  O público

Um dos motivos do masoquismo de Anastasia ter chamado atenção da mídia brasileira pela sua propagação entre as leitoras, foi a recente criação da lei Maria da Penha, onde muitas mulheres que sofrem agressões do marido passaram a contar com – supostamente - uma maneira mais rápida e eficaz de serem atendidas e protegidas pela justiça.
Para que a lei seja cumprida – não considerando os inúmeros casos especiais e contradições entre elas próprias – ela precisa ser solicitada. Uma mulher que sofre maus tratos por parte do companheiro não precisa mais ir até a uma delegacia, um terceiro pode fazer a denúncia e, então, as autoridades farão a checagem. Não são poucos os casos onde a mulher retira a queixa ou nega a denúncia.
Pode-se considerar, então, esta relação como sadomasoquista. Sim, um pouco diferente da situação vivida por Anastasia, porém, está enquadrada na mesma “parafilia”. Considerando a situação de ambas, Grey é claro sobre sua necessidade em agredir sua amada, ele expõe seu desejo e seu prazer. Já, na maioria dos casos onde a Lei Maria da Penha é aplicada, o companheiro não assume sua busca pelo prazer, ele mesmo não está consciente de seus desejos – está tentando sublimar seu real desejo, porém, não conseguindo, pois encontrou alguém que aceite a realização de seu ato repleto de energia libidinal.
Grey, apesar de, até conhecer Anastasia, não se importar com seu gosto peculiar pelo sadismo, mostrou-se consciente do desejo e de parte de sua origem – seus sofrimentos infantis relacionados a mãe. A psicanálise torna consciente estes desejos e, então, vai do indivíduo assumir suas fantasias inconscientes e traze-las ao consciente, buscando a realização, ou deixa-la lá e trazer apenas a energia sublimada e alocada em outro objeto de desejo e possível gerador de prazer.
Como citado anteriormente, o prazer é muito pessoal, cada indivíduo experimenta e vivencia de uma maneira diferente. A trilogia impressa, tanto quanto a filmologia, podem ter seus leitores e expetadores também taxados como uma espécie de voyeures modernos.
Para Mauribeca (2009, p. 121):

O voyeurismo envolve o ato de olhar indivíduos, comumente estranhos, sem suspeitar que estejam sendo observados, que estão nus, a se despirem ou em atividade sexual. O ato de observar serve à finalidade de obter excitação sexual, e habitualmente não é tentada qualquer atividade sexual com a pessoa observada.

Na atualidade muito se fala sobre a liberdade conquistada, porém, muitos indivíduos ainda são julgados por seus atos, mesmo os mais íntimos, assim, se tornam adeptos da sublimação ou de práticas mais brandas, como a proposta: voyeur moderno – pois este não estaria arriscando diretamente sua pessoa, ele não observaria pessoas reais, mas, sim, aquelas criadas em seu imaginário e instigadas por leituras como a trilogia 50 tons.

Assim, entre as inúmeras possibilidades expostas para o sucesso de vendas, seria o prazer através do outro e o prazer simbólico, de uma maneira, sublimado. Encontra-se aqui um mecanismo de defesa – a sublimação – e uma perversão – o voyeurismo, ambos termos freudianos e atuais, pois cada vez mais identificam-se doenças modernas trazidas pela ilusão de que hoje os indivíduos estão vivendo em sociedade livre – a sociedade citada refere-se a brasileira, já adianta perante muitas, ao observar mais de perto, porém, ainda muito enraizada em preconceitos religiosos e controle político.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

O encontro da estrutura sádica com a masoquista

                            Uma leitura psicanalítica da trilogia "50 Tons de Cinza"
         Capítulo 1: O ENCONTRO DA ESTRUTURA SÁDICA COM A MASOQUISTA

Um acaso do destino une Anastasia Steele, uma jovem estudante de jornalismo, e Christian Grey, um jovem empresário, poderoso e milionário. Anastasia aceita ajudar sua amiga e a substitui em um trabalho, entrevistar Grey. A jovem se surpreende, ela acreditar estar indo ao encontro de um senhor de meia idade e se depara com o “homem de seus sonhos”. Grey também não tira os olhos da jovem.



O jovem se surpreende por tamanho interesse na estudante, ele, um homem frio, amargurado, controlador, que somente sente prazer tendo o controle de toda a relação e fazendo tudo ao seu modo, parecia ter se apaixonada à primeira vista.
As relações amorosas de Grey são tão restritas que elas se mantêm através de um contrato. Após muitas investidas e insistência de sua parte, o casal está formado. Então assim como em suas relações anteriores, para se resguardar, Grey apresenta sua proposta, seu contrato de relacionamento à Anastasia. Nele, as cláusulas dão detalhes de como será a relação de ambos, desde os presentes, gastos financeiros, carinhos, maneira de se comportar em público, opiniões e, principalmente, como o sexo deve proceder.
O único prazer conhecido por Grey é o controle - do sexual ao psicológico. Suas relações sempre consistiram em manter financeiramente suas namoradas, fazer com que elas fossem discretas – nunca revelando publicamente o relacionamento -  e o ato sexual, no qual, sentia prazer em amarrar, surrar, entre outros atos, as parceiras.
Anastasia, primeiramente recusa o contrato, para surpresa de Grey. Porém, o amor fala mais alto e a garota reconsidera sua decisão, porém, é neste momento em que Grey apresenta uma postura diferente e surpreendente para ele mesmo. A relação não cumpre suas normas, o contrato já parece não apresentar mais tamanha importância. A paixão toma conta de ambos e os mundos passam a conviver entre si, conhecimentos e experiências são trocadas e compartilhadas.
Grey teve uma infância de maus tratos e negligência por parte de sua mãe e ausência de seu pai – diretos e indiretos, até que foi adotado por um rico casal. Mesmo passando a ter uma vida considerada normal e saudável para uma criança, as marcas sofridas – física e psicologicamente – não podem ser apagadas, elas podem, através da psicanálise, serem identificadas e ressignificadas.
Consciente de seu passado e buscando uma amenização de seu sofrimento, Grey, tem uma forte relação com seu analista. Ele está ciente de seus traumas passados e tentando conviver com eles da maneira mais saudável possível – para ele e aqueles que com ele se relaciona. Tudo muda quando ele percebe que seus desejos com os quais já estava habituado não são mais suficientes para seu prazer. Algo novo está sendo permitido dentro dele – o tão surpreendente amor.
Grey reproduz comportamentos que vivenciou com muita frequência em sua infância. Conforme o mesmo relata, seu desejo era poder salvar sua mãe, defendê-la, porém, ao perceber que ele não era capaz, passou a sentir culpa por sua incapacidade e recalcou o sentimento, transformando-o conscientemente em raiva de sua mãe, assim, buscava, de uma maneira especial, punir sua mãe e a ele mesmo por não ter tido o poder de resolver a situação passada.
Para muitas pessoas e teorias é algo inaceitável, punir sua própria mãe? Ferir sua namorada com um chicote? As dores e prazeres, neste caso, são inconscientes, assim, não passam pelo crivo social, pela razão, são instintos e impulsos provindos diretamente do Id.

Uma relação como a de Christian e Anastasia pode ser saudável? Ninguém, além deles mesmos, pode responder esta pergunta. Cada sujeito conhece a si mesmo e permite se aprofundar em seu mundo o quanto é capaz.  Conforme já citado, se a relação – seja ela amorosa, familiar, profissional – gera mais sentimentos prazerosos que desprazerosos ela deve ser aprovada pelo indivíduo, por ele exclusivamente, por mais ninguém. Considerando o nível de conhecimento e capacidade do sujeito, sendo alguém já em sofrimento, é importante haver um auxílio para esclarecer toda a situação, todas as possibilidades de felicidade e plenitude.

terça-feira, 29 de setembro de 2015

A psicanálise de Lacan

                                            Imagem: Reprodução Internet

Apesar de hoje existir várias correntes psicanalíticas – inclusive uma delas intitulada de Lacaniana – Lacan, ao entrar no mundo da psicanálise, propôs uma retorno à Freud. Assim como o pai da psicanálise havia dito, suas teorias não estavam fechadas, a psicanálise, assim como o indivíduo, está em constante mutação – a partir dos conhecimentos e experiências novas. Assim, Lacan, pode-se dizer, que aprofundou determinados termos psicanalíticos, não os modificou.

Assim como Freud, Lacan se formou em medicina. Suas principais contribuições para a psicanálise – apoiado da linguística de Saussure e na antropologia de Strauss - são os conceitos sobre sujeito, imaginário, simbólico, real e significante.

No setting de análise, Lacan propõe algo diferente, ele apresente a necessidade de um analista mais falante, um profissional que pontue a fala do paciente, mesmo que ela pareça, inicialmente, vazia. Esta interferência dará início ao sentido do discurso, através da linguagem de ambas as partes. Lacan também traz de Freud a resistência durante a análise, ela surge quando está para ser revelado o conteúdo recalcado para o inconsciente, daí surge a transferência, onde o paciente busca manipular – através do amor ou do ódio – o andamento da análise e as pontuações e inferências o analista.

Ao atingir o inconsciente, em Lacan, a função simbólica, está liberto o canal para os dilemas passados, como o Complexo de Édipo – é através dele que a criança compreende seu papel, desvincula-se dos pais e passa a compreender-se como um indivíduo a parte, inserido em um meio, porém, como uma unidade. Este processo semelhante ocorre na análise, onde a contra-transferência faz com que a transferência seja rompida e o paciente volta-se ao seu papel e ao setting, não mais em sua fantasia ou vivência passada, nem em seu desejo “consciente” proposto pela resistência/ transferência.

Para Lacan, o objetivo da análise é dispensar o sujeito da necessidade de explicar-se, que sustenta sua fantasia. Um pensamento semelhante ao de Freud, já que ambos, mesmo que utilizando linguagens diferenciadas, pode-se compreender – a partir, também, da linguagem e interpretação de quem s lê – buscam a liberdade do sujeito, não somente ele mesmo, mas também, perante a sociedade – uma espécie de sociedade livre.

Reforçando a diferença entre liberdade e libertinagem – visto Sartre. Um sujeito livre, com suas faculdades mentais aptas a fazer escolhas propostas pela psicanálise – se não atingirei o outro com minha ação e ela não me afetará de maneira dolorida, posso realizar determinada ação.

O Superego externo criado na época das cavernas só vem se aprimorando – passou pela Igreja, pela política e hoje, pode-se dizer, que está no poder. Fala-se aqui do poder da palavra, mais uma vez enfocando a linguagem. O poder de interpretação interna e de a força que possui uma externalização de palavras, ou de atitudes vistas como de coragem, seja para fortalecer ou enfraquecer uma massa ou um único indivíduo.

Os dizeres de Lacan foram utilizados para separar uma massa de psicanalistas, curiosamente, aqueles que vieram de Freud – um revolucionário e lutador pela liberdade interna do sujeito – condenaram Lacan por agir da mesma forma, buscar a liberdade de seus estudos, seus pensamentos e ensinamentos.



terça-feira, 22 de setembro de 2015

Os três principais passos da análise

                  Imagem: Reprodução Internet

Freud, após formar-se em medicina e fascinar-se pela hipnose, deu início ao que hoje chamamos de psicanálise. O médico não pretendia criar algo novo, foram as circunstancias dos atendimentos clínicos que fazia que o obrigaram a desenvolver técnicas novas – já que seu objetivo era realmente ajudar e curar aqueles pacientes que o procuravam.

A teoria de Freud deu-se a partir das observações clinicas e através de seus escritos clínicos – ele possuía um vasto arquivo de anotações que fazia durante as consultas. Após elas, reunindo as informações já obtidas e as novas, formulava-se uma teia, onde uma informação complementava a outra. Os relatos são feitos a partir da sensibilidade do profissional e conhecimento do paciente – com o passar das sessões, o analista já tem uma certa base do caso e já compreende quais os dizeres contribuirão para o insight – deixando claro que todo o material de escuta é, de alguma maneira, utilizado, tanto para o profissional quanto para o analisando.

Diferentemente de muitos tratamentos, a queixa inicial, a doença, não é o foco da psicanálise e sim o indivíduo. A psicanalise busca a origem do problema, os motivos pelos quais ele sofre por determinada situação ou o porquê foi acometido por tal doença. Estes escritos em conjunto dão origem a metapsicologia do analisando.

Um estudo de caso, a partir dos escritos em análise consiste em três momentos: foco na doença – queixas e sintomas, descrição da história – a partir da relação entre analista/ paciente (transferência) e, por fim, a construção teórica – onde une-se aos primeiros dois passos a interpretação por parte do profissional.

Nas anotações do analista estão, além da fala do paciente, a não fala, como esquecimentos, momentos de silêncio, choro, alterações no tom de voz, chistes e reações corporais. Partindo do princípio de que a fala precisa burlar a barreira do recalque para que consiga relatar um determinado assunto em detalhes, o corpo consegue transparecer, de uma maneira, que, naquele momento, determinada situação está sendo desagradável, pois está gerando desconforto e dor ao tentar relatar, recordar, algum fato.

Sobre a transferência, ela costuma ocorrer no segundo momento da análise, onde a queixa foi, de alguma forma, externalizada, trazida para o consciente, e o paciente passa a reviver seu passado, seu sofrimento, porém, ainda de maneira não tão clara, assim, tende a transferir os sentimentos passados para o analista – podendo acreditar amá-lo ou odiá-lo. Uma análise bem conduzida necessita da transferência e também da contra-transferência, onde o profissional conduz a relação e consegue trazer o paciente ao insight, fazendo com que o sentimento seja direcionado ao real causador dele.


Após o insight, em seu último momento, a análise busca ressignificar o fator gerador da doença ou da dor. Agora consciente, o analista pode manter um diálogo aberto, maduro, onde o sofrimento está sendo experienciado de uma maneira diferente, pois, agora, o indivíduo não se encontra mais só, está acompanhado e seguro junto da figura do analista – daí a contra-transferência.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

O Ego e o poder do Outro

                                           Imagem: Reprodução Internet

A palavra Ego, no senso comum, é normalmente aplicada quando se faz referência ao mais íntimo de um indivíduo. Na psicanálise é semelhante, porém, muito mais complexo. O Ego trabalha juntamente com o Id e o Superego. É dele a tarefa de mediar os desejos e proibições. Enquanto o Id nasce com o indivíduo e representa seus desejos, o Ego e o Superego – este segundo, principalmente – são constantemente transformados a partir das experiências sofridas pelo indivíduo.

O Ego inicia sua formação, e sua parte mais importante – sua base – logo na infância, por isso a fase necessita de tamanha atenção. Atenção não é sinônimo de superproteção e excesso de amor. Desde a infância o indivíduo, no caso, a criança, precisa vivenciar diversos tipos de experiências, sejam elas prazerosas e desprazerosas. Algumas são da natureza humana, como, por exemplo – a partir de Melanie Klein, a descoberta de que ela e sua mãe não são um único ser e o ato de alimentar-se, que, apesar da ajuda de um outro, a atividade depende do próprio indivíduo que busca saciar sua fome.

Muitos pais e cuidadores buscam evitar a frustração nas crianças, porém, estas tendem a crescer adultos infantis, afinal, somente na fase seguinte, a adulta, estarão sujeitos a experiências que lhes foram privadas na infância, assim, ele tende a manter uma visão infantil dos ocorridos, afinal, são algo novo para ele.

A partir da formação do Ego, o indivíduo passa a considerar-se um indivíduo real, separado dos demais integrantes de sua família. Para este processo, é necessária muita atenção durante o momento de castração – complexo de Édipo – independente do filho homem ou mulher. Ambos devem estar cientes do papel o qual cada um representa na instituição familiar.

Perante as novas formulações de família, há certas diferenças, porém, estes papeis sempre existem. No caso, o pai é a figura castradora, aquele que faz o rompimento da criança com a mãe, aquele que se coloca entre a relação dos dois. Não, necessariamente, a figura do pai precisa ser um homem, nem, tão pouco, a figura da mãe precisa ser a genitora. Apenas, naquela estrutura familiar, os presentes necessitam assumir determinados papeis.

A ausência de Ego ou um Ego frágil, pode tornar um indivíduo psicótico ou neurótico. Ao não ter sofrido esta ruptura da castração, ele não é inserido na realidade, assim, acredita que tudo pode, não tendo desenvolvido sua capacidade de aceitação a normas externas. Bem como, o Ego frágil torna-se suscetível a interiorizar um Ego externo, aceitando, facilmente, ter sua subjetividade ignorada e passar a acreditar no Outro.


Freud aborda a figura do Outro, neste caso, como aqueles sujeitos que se destacam em grandes massas através de seus discursos – seja ele político ou religioso, por exemplo. Enquanto os seguidores, aqueles que acreditam em dizeres milagrosos sem nenhum fundamento ou aplicação a realidade na qual está sendo pregado, são aqueles que possuem um Ego frágil, incapaz de acreditar e confiar em suas próprias escolhas, necessitando de um ditador externo para ordenar suas atitudes e posicionamentos.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

O assassinato do Ego


                                           Imagem: Reprodução Internet

Uma das principais razões motivadoras para o suicídio é a depressão. Ela atinge diretamente o Ego do indivíduo, fazendo com que ele se anulo, tornando-se, assim, o principal culpado por todo o estado psicológico e físico do depressivo. Encontrando-se nesta situação, a única saída, é aniquilá-lo, ou seja, o suicídio. Esta é vista por muitos como a única saída para acabar com a dor, o sofrimento, o luto, a melancolia, que o acomete e, a partir da inutilização do Ego, ele passa ver a si próprio como o culpado.

O luto e a melancolia podem ser produtores de fatores depressivos que, podem ou não, acarretar uma depressão. O luto, apesar de ser popularmente utilizado quando há a morte de um ente querido, na psicanálise, seu significado vai além. O luto refere-se a morte, ao fim, seja de uma pessoa, ou uma relação devido um afastamento, uma situação de bem-estar que não pode mais ocorrer. O indivíduo precisa aprender a lidar com esta perda, é necessário viver este período de readaptação a falta e, posteriormente, substituir de modo saudável este “objeto” conscientemente.

Em muitos casos, o período de luto não é respeitado, não há a superação da fase da aceitação, então, a situação é ignorada, como se não existisse. Desta forma, a falta é sublimada, sua energia libidinal passa a ser deslocada para outro objeto e o prazer, de forma consciente, volta a existir. Porém, este processo costuma ser útil por um período, logo tende a iniciar as neuroses perante o objeto substituto, principalmente, e pode aparecer a culpa pelo objeto perdido – tanto por não ter sido capaz de mantê-lo vivo, quanto a incapacidade de aceita-lo morto.

Para Dukheim, o suicídio é um fator social. Sua visão reforça parte da teoria de Freud, onde, em o Mal-estar na sociedade, o pai da psicanálise deixa claro que o indivíduo sofre, durante toda sua vida, influencias externas e as introjeta conforme sua interpretação – que também está em constante crescimento e mutação, a partir destas novas experiências e conhecimentos que vai adquirindo. Assim, estando vivendo em uma sociedade onde a morte através de suicídio é vista como um pecado contra Deus, este sentimento pode fazer com que seu medo aumento e, seja ainda propício o suicídio, pois, estou tendo estas ideias, estes pensamentos e desejos, já sou pecador, estou cometendo mais um erro, então, preciso colocar um fim a esta sequência de erros.

Bem como o luto daqueles que cercam o suicida será vivido de uma maneira diferente, velada, onde não se pode ter pena de um pecador e, paralelo a isso, há a cobrança em amar o próximo, principalmente se este for de seu sangue. Mais uma vez, de uma maneira simbólica e “discreta”, a religião está ligada a psicanálise, ao sofrimento.

Enfim, assim como muitos transtornos psíquicos podem ser evitados e, se não, tratados, o suicídio pode ser evitado. O indivíduo que está sofrendo sofre diversas alterações de comportamento – seja demonstrando sua depressão ou a escondendo e somente apresentando uma felicidade extrema. Cabe aqueles que o cercam observar com um olhar único e sensível. Seguindo com a citação da religião, um olhar de amor ao próximo, mas não segmentando uma única religião, e, sim, a base – que na maioria das vezes é invertida – o amor, sem olhar a quem, sem julgamentos ou preconceitos. O depressivo dificilmente aceita seu estado, por isso necessita de ajuda – tanto psicológica quanto medicamentosa. Em muitos casos, somete a utilização de um deles não é suficiente para a cura.