terça-feira, 6 de outubro de 2015

O encontro da estrutura sádica com a masoquista

                            Uma leitura psicanalítica da trilogia "50 Tons de Cinza"
         Capítulo 1: O ENCONTRO DA ESTRUTURA SÁDICA COM A MASOQUISTA

Um acaso do destino une Anastasia Steele, uma jovem estudante de jornalismo, e Christian Grey, um jovem empresário, poderoso e milionário. Anastasia aceita ajudar sua amiga e a substitui em um trabalho, entrevistar Grey. A jovem se surpreende, ela acreditar estar indo ao encontro de um senhor de meia idade e se depara com o “homem de seus sonhos”. Grey também não tira os olhos da jovem.



O jovem se surpreende por tamanho interesse na estudante, ele, um homem frio, amargurado, controlador, que somente sente prazer tendo o controle de toda a relação e fazendo tudo ao seu modo, parecia ter se apaixonada à primeira vista.
As relações amorosas de Grey são tão restritas que elas se mantêm através de um contrato. Após muitas investidas e insistência de sua parte, o casal está formado. Então assim como em suas relações anteriores, para se resguardar, Grey apresenta sua proposta, seu contrato de relacionamento à Anastasia. Nele, as cláusulas dão detalhes de como será a relação de ambos, desde os presentes, gastos financeiros, carinhos, maneira de se comportar em público, opiniões e, principalmente, como o sexo deve proceder.
O único prazer conhecido por Grey é o controle - do sexual ao psicológico. Suas relações sempre consistiram em manter financeiramente suas namoradas, fazer com que elas fossem discretas – nunca revelando publicamente o relacionamento -  e o ato sexual, no qual, sentia prazer em amarrar, surrar, entre outros atos, as parceiras.
Anastasia, primeiramente recusa o contrato, para surpresa de Grey. Porém, o amor fala mais alto e a garota reconsidera sua decisão, porém, é neste momento em que Grey apresenta uma postura diferente e surpreendente para ele mesmo. A relação não cumpre suas normas, o contrato já parece não apresentar mais tamanha importância. A paixão toma conta de ambos e os mundos passam a conviver entre si, conhecimentos e experiências são trocadas e compartilhadas.
Grey teve uma infância de maus tratos e negligência por parte de sua mãe e ausência de seu pai – diretos e indiretos, até que foi adotado por um rico casal. Mesmo passando a ter uma vida considerada normal e saudável para uma criança, as marcas sofridas – física e psicologicamente – não podem ser apagadas, elas podem, através da psicanálise, serem identificadas e ressignificadas.
Consciente de seu passado e buscando uma amenização de seu sofrimento, Grey, tem uma forte relação com seu analista. Ele está ciente de seus traumas passados e tentando conviver com eles da maneira mais saudável possível – para ele e aqueles que com ele se relaciona. Tudo muda quando ele percebe que seus desejos com os quais já estava habituado não são mais suficientes para seu prazer. Algo novo está sendo permitido dentro dele – o tão surpreendente amor.
Grey reproduz comportamentos que vivenciou com muita frequência em sua infância. Conforme o mesmo relata, seu desejo era poder salvar sua mãe, defendê-la, porém, ao perceber que ele não era capaz, passou a sentir culpa por sua incapacidade e recalcou o sentimento, transformando-o conscientemente em raiva de sua mãe, assim, buscava, de uma maneira especial, punir sua mãe e a ele mesmo por não ter tido o poder de resolver a situação passada.
Para muitas pessoas e teorias é algo inaceitável, punir sua própria mãe? Ferir sua namorada com um chicote? As dores e prazeres, neste caso, são inconscientes, assim, não passam pelo crivo social, pela razão, são instintos e impulsos provindos diretamente do Id.

Uma relação como a de Christian e Anastasia pode ser saudável? Ninguém, além deles mesmos, pode responder esta pergunta. Cada sujeito conhece a si mesmo e permite se aprofundar em seu mundo o quanto é capaz.  Conforme já citado, se a relação – seja ela amorosa, familiar, profissional – gera mais sentimentos prazerosos que desprazerosos ela deve ser aprovada pelo indivíduo, por ele exclusivamente, por mais ninguém. Considerando o nível de conhecimento e capacidade do sujeito, sendo alguém já em sofrimento, é importante haver um auxílio para esclarecer toda a situação, todas as possibilidades de felicidade e plenitude.

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