terça-feira, 29 de abril de 2014

O surgimento da psicanálise


                                                                                                                   Imagem: Reprodução Internet

A grosso modo, a psicanálise pode ser traduzida rapidamente para leigos como uma conversa onde não há censuras de ambos os lados, do paciente e do profissional. Freud desenvolveu o método através de consultas com seus pacientes. O médico aprendia uma nova técnica a cada novo contato. Esta conversa sem restrições é, tecnicamente, o método catártico, desenvolvido a partir da hipnose – onde o paciente estava em suposto estado de transe e, assim, trazia para a realidade seu inconsciente, porém, logo após a sessão, tudo era esquecido e não havia melhora dos sentidos que estavam sendo tratados.
Assim como as técnicas e métodos a serem aplicados durante a então psicanálise, as teorias foram surgindo conforme o desabafo sincero de seus pacientes. Freud pode observar que as crises e neuroses da vida adulta possuíam ligação direta a problemas ignorados ou não solucionados na infância. Estes problemas, passados e presentes, se mesclavam entre consciente e inconsciente, e, na maioria das vezes, só conseguiam ter sentido durante os sonhos.
Nesta etapa, Freud se desligou da hipnose e encontrou este novo método que se apresentava muito mais eficaz no tratamento das neuroses. Fazer com que o sujeito contasse seus sonhos, nos detalhes mais íntimos e sórdidos, costumava fazer com que outras lembranças passassem pelo recalque e chegassem ao consciente, podendo assim, encontrar a causa da neurose. Ao contar um fato, ele é revivido. Desta maneira, o sujeito retoma aquele momento, no caso, a infância, e, ao externalizar tal ocorrido, com a lanterna da psicanálise, ele consegue interpretá-lo de uma nova maneira, com sua visão de adulto.
Durante o processo, geralmente muito longo de análise, era comum, os pacientes passarem pelo processo de transferência, levando seus sentimentos, de amor ou ódio, ao terapeuta. Dr. Breuer, por exemplo, sentiu a necessidade de entregar uma de suas pacientes a Freud para que seu casamento fosse preservado, já que a jovem colocou Breuer no papel de seu pai, seu amor não resolvido da infância.
A paciente não conseguia aceitar a relação que teve com seus pais. Um pai amoroso e uma mãe castradora – os papeis inversos do habitual. A mãe tornou-se uma figura de ódio e o pai seu desejo mais íntimo de amor, assim, ao vê-lo em um bordel e, logo após, ele falecer, ela sentiu-se perdida, sozinha. Alcançou a fagulha que faltava para que sua neurose se transformasse em histeria, trazendo seu desespero interior causasse problemas físicos como cegueira.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Casos clínicos: O pequeno Hans e o Homem dos Ratos



Imagem: Reprodução Internet

Para tratar as súbitas fobias de animais do pequeno Hans, com apenas três anos de idade, Dr. Freud, que realizou grande parte do tratamento através de cartas trocadas com o pai do garoto, utilizou-se da interpretação dos sonhos.
Hans desenvolveu, ao longo do tempo e acontecimentos, uma curiosidade pelo falo, cujo ele chamava de “pipi”. Mesmo muito pequeno, descobriu que ao tocá-lo, sentia prazer. Um prazer inocente, sem a malícia presente nos adolescentes e adultos, onde há o desejo consciente. Ao ser surpreendido por sua mãe durante o ato de toque em seu pipi, ela o repreende e o ameaça, a castração. A partir deste momento, sua curiosidade para com o “pipi” só aumenta, e não somente pelo seu, mas sim, pelo dos outros, aqueles de seu convívio, seus pais.
Ao acompanhar com maior rigor o comportamento do filho, os pais, principalmente o homem, percebe a necessidade do filho em, muitas vezes, dormir junto de sua mãe, trocando de quarto, de papel, com seu pai, se tornando o homem da casa. Durante este acompanhamento com o Dr. Freud, nasce o segundo filho do casal, uma menina. O fato faz com que as fobias de Hans se acentuem, pois ele já não possui toda a tenção da casa como anteriormente.
Hans passa a sentir-se amedrontado ao sair de casa e deparar-se com cavalos, comuns pelas ruas da época, utilizados em carroças e charretes. Logo em seguida, ele relata seu sonho, com duas girafas, uma delas amassada. Em seu sonho, ele se senta sob a outra girafa, esta que estava fazendo um barulho muito alto, e a cala.
E ao relatar pessoalmente o caso ao Dr. Freud, o psicanalista, já conhecendo parte do caso de Hans, interpreta o sonho do garoto como as girafas sendo seus pais, a mãe é a girafa murcha, em relação ao seu órgão sexual, e a girafa normal, viril, seria seu pai. O grito representa a repreensão de seu pai quando busca a atenção da mãe. Sentar-se sob ela seria vencê-la.
Sobre o medo dos cavalos, Hans relata em detalhes que possui medo dos olhos e do cabresto utilizado pelos cavalos. Freud interpreta que o cavalo representa seu pai, os fortes traços masculinos no rosto, representados pela barba e bigode. Hans também revela que tem medo de que os cavalos caiam, pois já presenciou uma cena destas. O medido então, mais uma vez, identifica o complexo de Édipo, onde o filho gostaria de ver a queda do pai, para que ele possa ocupar o posto ao lado de sua mãe como único homem do lar.
Posteriormente, o complexo se mostra mais presente, onde pai e filho conversam e o filho revela que sonhou em ter filhos e que a mãe deles era sua própria mãe. O papel do pai foi apagado, transformando-o em avô das crianças, juntamente com sua avó. Ao mostrar-se firme ao lado do filho, acompanhando as neuroses e fobias, o pai fez-se presente, afirmando seu papel de cuidador de Hans e de marido da mãe do garoto.
Delicadamente, Hans voltou a sentir-se a vontade nas ruas da cidade e seus sonhos com as girafas não mais se repetiram. A presença masculina forte ao lado de Hans, fez com que o complexo de Édipo fosse superado.

 
Ao abordar o caso do “Homem dos Ratos”, podemos ver algo diferente do caso do pequeno Hans, onde um homem adulto, aos 30 anos, ainda sofre por casos mal resolvidos em sua fase infantil. Aos 30 anos, o rapaz procura Freud e, em 11 meses de terapia, conta inúmeras histórias que parecem dar voltas sem fim, até que, após transferir para o psicanalista seu real sentimento, a  verdade prevalece.
O rapaz procura Freud e conta uma história que o deixou incomodado, posteriormente, descobre-se que esta história foi o estopim para trazer de volta ao seu consciente todo seu sofrimento. Ao conversar com um oficial sobre castigo, este o relata um castigo envolvendo ratos. Após esta conversa, o rapaz imaginou seu pai e sua amada sofrendo este castigo. Algo inaceitável, pois ele amava seu pai e tudo o que mais queria era protegê-lo.
Quanto mais a fundo o paciente permitia que Dr. Freud atingisse seu inconsciente, mais patologias ele foi desenvolvendo – começou a desenvolver rituais onde, por exemplo, em um dos horário com Freud, ao relatar um fato com sua amada, ele precisava contar até 40 para que nada de mau lhe acontecesse.
Freud busca na infância os desejos reprimidos do jovem, órfão de pai, que não aceita seu falecimento e não consegue dar conta de sua vida – levando nove anos para se formar em direito e logo após adoecendo, fazendo com que ele não pudesse trabalhar.
A figura materna não aparece nos relatos do rapaz, somente duas mulheres são ressaltadas em sua infância, duas governantes, que ele desejava, inclusive, uma delas, lhe permitiu que observasse e tocasse seu corpo, reavivando ainda mais a sexualidade do menino de seis anos.
Aos poucos, o rapaz vai se permitindo durante a terapia, aceita olhar para seus medos e para os acontecimentos não aceitos. Freud mostra a ele a tênue linha entre amor e ódio, desejo e repúdio. Na realidade, o rapaz sentia um ódio incontrolável do pai, porém, sublimou este sentimento, transformando-o em amor, algo aceito socialmente.
Durante sua infância, o menino foi surrado e em sua adolescência, o pai tentava arranjar um casamento entre ele e uma prima rica. Assim, o pai buscava fazer com que o filho tomasse jeito, não se tornando um criminoso, um rato.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Arqueologia da mente: Gradiva de Jensen



                                                                                  Imagem: Internet
 
Freud dizia que a interpretação do artista antecede a psicanálise. Para ele, o artista interpreta emoções, dele e do outro. Hitler, por exemplo, todos os seus quadros pintados tinham como cor predominante o vermelho, laranja e amarelo. Sua personalidade psicótica, seus delírios histéricos e imaginativos, estava expressa em sua arte. Há também os delírios neuróticos, causados e expressos através de angústia, depressão e tentativas de suicídio.
Os delírios são estruturados através do encontro, da invenção do objeto e finalmente do encontro do objeto com o grande outro, este que seria a mãe. O desejo de transformar um objeto em seu, retirar o que há de ruim nele e fantasiar que ele é inteiramente do jeito com o qual gostaria que fosse, este seria o princípio da histeria masculina.


Em contra partida dos delírios, os devaneios, também muito comuns expressos em arte, são saudáveis, pois neste período, o sujeito consegue distinguir o real da fantasia.
O desejo de ter o outro não e faz ir buscá-lo, mas sim trazê-lo para mim, satisfazer o desejo egoísta que permanece desde a infância e se tornou, na fase adulta, o narcisismo. Tornar o outro minha propriedade, o ciúme, para Lacan, é a inveja que possuo do outro. Seria esta uma inveja do que o outro é, do que causa nos demais, ou inveja do outro que pode ter este objeto que quero para mim?
Me sinto incompleto, assim, busco algo ou alguém que preencha o vazio que somente eu mesmo poderei preencher ou aceitar que este “buraco” sempre permanecerá aberto, ou então, será substituído por outro. Esta busca pelo outro, pela falta, pode ser eterna porque o outro não quis, assim, o outro torna-se um desalmado e eu uma vítima. O gozo de privação, o chamado “coitadinho”, que acaba recebendo atenção, pois passou por algo difícil.
Este mal pode acabar sendo recorrente, pois o indivíduo tende a receber atenção toda vez que lhe acontece ou que ele mesmo lhe cause, algo primeiramente ruim. Mias tarde, ao partilhar a histeria, acaba recebendo parte do que gostaria, atenção, então, tende a repetir o comportamento que primeiramente ao olhar, parece não ter dado certo. Mascarar a realidade por medo de enfrentar o próprio erro causa este ganho momentâneo, que em breve precisa ser reforçado para que aconteça uma continuidade.
A histeria nega a felicidade do outro e faz com que sejam criadas fantasias, neuroses, para se esconder, ocultar uma forma de angústia.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Os chistes e sua relação com o inconsciente




Os chistes podem ser explicados como uma espécie de válvula de escape encontrada pelo inconsciente de realizar algum tipo de manifestação, uma explosão. Estas manifestações acontecem normalmente em forma de sonhos e atos falhos, ou seja, expressar um desejo em tom de brincadeira, dizer o que realmente está querendo, porém, não ser direto, para assim, evitar o julgamento e a negação/ privação de tal desejo.
O inconsciente do sujeito é subjetivo, cada sujeito é único e não pode ser comparado ao outro, é necessário avaliar a história de vida individual para que, por exemplo, possa analisar um sonho, outro tipo comum de manifestação dos chistes. Dois sujeitos podem ter sonhos praticamente idênticos, porém, para cada um, conforme sua vivência passada e atual, terá um significado para ele.
Conforme já mencionado, o chiste ocorre devido a uma censura, a um medo do sujeito ser “punido” ou privado de seu desejo. Mesmo assim, o chiste pode acarretar uma reação positiva ou negativa, tanto por parte do sujeito que o fez quanto dos sujeitos que o “receberam”. Ao fazer uma piada, por exemplo, dizendo que não gosta de gays – e na verdade o sujeito está em dúvida sobre sua sexualidade – ele pode arrancar risadas de seus colegas. O chiste então, acaba sendo uma maneira de expressar seus desejos reais perante a sociedade sem acarretar um julgamento, afinal, as palavras ditas não eram sérias, assim, acaba sendo aceito socialmente e sente-se momentaneamente aliviado interiormente, pois conseguiu externalizar, burlar o recalque em cima de seu desejo mais íntimo, uma forma de autopreservação.
Assim, o chiste é para o outro, não é para me satisfazer, mas sim, atrair o outro, necessita de sua interpreteção. O humor, que faz parte do chiste, é um dos regentes do ser humano, juntamente com o afeto (afeto pode ser considerado aquilo que afeta o indivíduo). E o humor, faz parte do narcisismo. Ao fazer um chiste, uma piadinha, o indivíduo busca a atenção do outro para que lhe prestigie. O humor traz a discussão do que o indivíduo busca nesta hora, o humor infantil e puro e, ao mesmo tempo, algum tipo de gratificação sexual recalcada.
Aqui pode-se surgir os conflitos internos, pois o sujeito acredita estar aliviado por ter falado o que realmente pensa, porém, em seu inconsciente, sabe que ainda há a ação da censura, devido o tom ao qual utilizou para tratar do assunto. O chiste serve para tirar as tais máscaras que os indivíduos utilizam para se proteger de si mesmos e da sociedade.
Os chistes, atos falhos e sonhos então conseguem burlar a censura, passam entre a forte barreira armada entre o consciente e o inconsciente. O chiste serve então para produzir algum tipo de prazer ao sujeito, enquanto os sonhos expressam os reais desejos. Lembrando que os sonhos são compostos de conteúdo latente e manifesto que se condensam e formam imagens menos doloridas para que possamos lembrar e burlar o recalque. Já os sonhos ruins, os chamados pesadelos, são avisos de que determinado assunto deve ser resolvido com urgência, como prioridade.
Os chistes, utilizados com cuidado, podem entrar para a clínica e fazer parte do discurso do psicanalista para com seu paciente/ cliente.