quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

A vitória sem prazer



                                                                                                          Imagem: reprodução Internet

Freud referenciou sua teoria sobre Totem e Tabu em estudos de Darwin sobre tribos australianas. A ideia de totem é a de um objeto ambivalente, ao mesmo tempo sagrado e profano. Algo que causava admiração e curiosidade perante aqueles que o adoravam. Um misto tomava aquele povo, o desejo de tocar e, ate mesmo, tomar o lugar de poder ocupado por ele, tornou-se maior do que a admiração e respeita imposta pela figura.

A comparação então foi feita por Freud para o complexo de Édipo, onde o pai torna-se o totem – cujo garoto admira sua figura ao ponto de querer tomar o lugar dele. A figura do pai é vista como autoridade, a quem deve-se respeitar, porem, nesta relação, surge o desejo de também impor respeito, não somente respeitar. O desejo de possuir a mãe única e exclusivamente para ele, como uma vitória perante aquele que demonstra ser tão forte e intocável, quebrar o tabu e fazer o totem cair.

Após esta batalha travada vem o sentimento de falta, de necessidade de voltar a ter um totem a admirar, respeitar e seguir. O totem do pai pode ser reconstruído ou então pode ser substituído – por exemplo, por um professor, regras escolares ou regime profissional.

Esta ambivalência emocional perante o totem perdura por toda a vida, podendo ser muito encontrada em diversas religiões, onde Deus e Santos são idolatrados por uns e questionados por outros. O medo do castigo divino, por isso a necessidade em seguir, por exemplo, Os Dez mandamentos da Igreja Católica. Em contra ponto, a curiosidade em assumir os desejos que vão de encontro a ruptura e quebra dos mandamentos, o enfrentamento do sagrado buscando vence-lo, conquistando aquilo que se deseja sem a punição divina que supostamente o acompanha.

Aqui, novamente, retornar-se para a autopunição, onde a tal punição divina não acontece diretamente, é, sim, o próprio sujeito que se pune pela quebra do sagrado, daquilo imposto pela sociedade e esperado por ela para que seja cumprido, sendo assim, honrado e digno.

Pode acontecer uma mudança então no totem, se um já foi quebrado, vencido, e não conseguiu se reconstruir, natural que busque-se outro. Talvez seja esse o caso de muitas migrações religiosas. Ao alcançar o lugar sagrado, ao tocar o intocável, é necessário um novo totem a admirar e a almejar, desejar. Um novo desafio, um novo tabu a ser quebrado.

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