quinta-feira, 27 de março de 2014

Ato falho e lapso da fala





Pode-se dizer, a grosso modo, que Freud conseguiu explicar a constante briga interna acontecida em todos os indivíduos, alguns de maneira mais perceptível, outros de um modo mais discreto. Esse conflito de desejos acontece devido a presença e disputa entre o Id, Ego e Supergo. O Id controla, ou melhor, descontrola os desejos, age com uma vontade primitiva: quero = vou fazer. O Superego, que começa a se formar por volta dos quatro anos de idade, é um lado controlador, preocupado com as consequências sociais, principalmente, que o indivíduo sofrerá ao ter tal atitude. E, por fim, o ego, tenta atender a demanda de ambas, tentando mediar os prazeres do indivíduo, sendo assim, nem Id, nem Superego saem completamente satisfeitos, gerando uma espécie de prazer moderado – pelo Ego.

Além dos três, identifica-se também um Ego auxiliar, a sociedade e a mídia. Estas, juntas, criam e disseminam comportamentos aceitáveis ou não, desta maneira, o sujeito tem a necessidade de, antes de cada ato, fazer mais uma espécie de consulta para tentar ter um respaldo sobre quais reações seu comportamento pode gerar. Aqui pode ser trazida uma fala muito conhecida de Freud “Ao fazer uma escolha, perco outra (s)”. O indivíduo precisa, de certa maneira, escolher se agrada a si mesmo naquele determinado momento da busca de prazer ou se aceita não realizar tal ato devido as consequências que o mesmo pode lhe trazer em convívio com a sociedade repressora, assim como irá precisar conviver com a culpa interna provocada pelo Superego. Aqui, o indivíduo, na maioria das vezes, aceita sublimar seu desejo e provocar uma angústia menor do que seria se sucumbisse aos desejos do Id, e pudesse gerar um conflito social, lhe trazendo uma angústia ainda maior, devido a não aceitação em seu grupo.



A sociedade atual, capitalista, busca destruir o Ego, o moderador, quer ela, de maneira única controlar, para isso, utiliza o consumo e o auxílio da mídia para que tudo tenha um tempo de vida útil, seja uma roupa, um aparelho celular ou um comportamento aceitável. Assim, acaba segmentando muitos, poucos grupos se destoam da massa e estes, em sua maioria, não são bem vistos, pois agem “por si só”, sem aceitar o controle imposto sutilmente.

Este conflito acontece a todo instante sem que seja diretamente percebido pelo indivíduo que abriga as três instâncias. Ao sublimar um desejo do Id, é comum que ele encontre uma espécie de válvula de escape, chamada por Freud de “ato falho”, e o mais comum de acontecer é o da fala, onde o indivíduo fala algo que o Id gostaria de fazer ou falar “sem querer” assim, está externalizando seu desejo, por mais que o mesmo não será realizado. É um sinal de alerta para que a disputa interna seja melhor avaliada para não se criar uma neurose de angústia ainda mais forte e causadora de problemas maiores, interno ou esterno. Aqui entra a psicanálise, interpretada como uma lanterna, para que estes desejos e conflitos possam ser vistos abertamente e “resolvidos” pelo indivíduo, tratando a causa inconsciente.

Como todo desejo parte do inconsciente e conta com a conotação sexual, são encontrados muitos casos onde pessoas, numa reunia de negócios, por exemplo, ao se expressarem, trocam palavras de seu discurso por outras com sentido sexual, pois não estão inteiramente naquele ambiente em determinado momento. Estão sim passando por uma situação de angústia na qual o Id encontra esta maneira de satisfezar parcialmente seu prazer.

Durante este embate entre Id, Ego e Superego, o indivíduo utiliza-se de “ferramentas”auxiliares para buscar o controle da situação, estas são chamadas de “Mecanismos de defesa”, inicialmente identificados por Freud e o estudos nestes foi aprofundado por sua filha, Anna. Repressão, deslocamento, formação reativa, anulação, somatização, conversão, projeção, intelectualização e sublimação são os nove itens identificados pelo estudo de Anna Freud.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Introdução à interpretação dos sonhos



                                                                                    Foto: Reprodução Internet

A interpretação dos sonhos talvez tenha sido o método de Freud que mais atraiu a atenção de seus pacientes e até hoje intriga muitos, principalmente os leigos no assunto, seja não profissionais ou não pacientes.

Para tratar sobre a interpretação de sonhos, fica impossível não introduzir a tópica de Freud conhecida como “iceberg”, onde somente uma pequena parte de nossa mente é consciente, assim, o restante é chamado de pré-consciente e inconsciente. Cada indivíduo somente tem domínio sobre seu consciente, onde pode controlar e, principalmente, censurar seus pensamentos.

Durante o sono, o inconsciente vem à tona e o indivíduo não tem mais nenhum poder de controle sob si mesmo. Antes de seu pensamento organizado, possível de ser entendido dentro da realidade, seus desejos mais íntimos e absurdos aparecem, numa mescla com fatos vividos para que seja possível haver a lembrança assim que ocorra o despertar do sono.

Em sofrimento ou não, o indivíduo se liberta durante o sono e, ao despertar, retoma o estado de suposto controle, onde volta a ter certo discernimento sobre o que deve ou não pensar e desejar. Por exemplo, no caso de Ana O., a primeira e mais famosa paciente de Freud, ela sonhava que socorria o pai em um hospital, onde na verdade, ela lembrava vagamente de ter encontrado seu pai em um bordel.


Especialista fala sobre os sonhos: http://www.youtube.com/watch?v=gXcSjOx33L8 



Uma dica interessante e muito utilizada com pacientes que estão tendo seus sonhos analisados é anotar os fatos que são recordados dos sonhos logo ao despertar, pois o organismo ainda está sonolento e não teve tempo de acordar por inteiro, assim, lembranças do sonho efetivamente são transmitidas. É comum o sonho ser apagado da memória quando trazer para o indivíduo um sentimento indesejado, ou seja, acontece o recalcamento dessas imagens que até a pouco estiveram permeando entre os pensamentos.

Cabe ao profissional, ao psicanalista, analisar delicadamente cada acontecimento e cada personagem presente neste sonho. Desenvolver uma certa união entre as palavras ditas em consultório, conscientemente, e os sonhos que aparecem livremente durante o sono. Cada significante possui um significado diferente para cada paciente, um animal, por exemplo, um cão, pode representar para um indivíduo amor e para outro ódio, repulsa, nojo. Por isto a importância em mesclar as representações conscientes e inconscientes, conhecer seu paciente através dos sutis sinais dados em consultório, um lapso da falha, um esquecimento, um tremor ou sudorese ao abordar um determinado assunto.


segunda-feira, 17 de março de 2014

A sexualidade na etiologia das neuroses



                                    Foto: Reprodução Internet

Dentro da atual sociedade parece a cada dia descobrir uma nova síndrome, uma nova neurose que há décadas já haviam sido inicialmente sido encontrados seus traços por Freud. Neurose atual, ausência ou inadequação sexual pode ser analisada como um tipo de neurose de angústia, onde o casal cria uma determinada expectativa e a tal não se concretiza por inúmeros fatores.

Uma mudança do olhar da sociedade também pode contribuir para a neurose, onde há, em menos de um século, a mulher passou de simples objeto de procriação e satisfação do esposo – ou cliente – para um ser que busca prazer, que por todo o tempo que passou sem poder senti-lo, agora parece ser lhe atribuído isto como uma quase obrigação.

Como dentro da psicanálise a sexualidade, não propriamente na conotação, nas inicia seu desenvolvimento na infância, tem-se os casos de mulheres que se apaixonam muito rápido, devido ao ter um pai muito rigoroso; e o inverso, quando a figura paterna é ausente, ela busca alguém que possa ocupar seu lugar, dar-lhe a atenção, e muitas vezes, a punição que acredita merecer.

Onde o poder de um id controlador se transforma em doença, Ninfomaníaca: http://www.youtube.com/watch?v=7HW4UjB4wkY

Desta maneira pode se desenvolver uma formação reativa, onde a busca por uma figura paterna, não uma relação amorosa de homem para mulher, ela possa conscientemente dizer que ama determinado indivíduo, onde na verdade o odeia, por ser a figura daquele pai que era rígido demais com suas posturas ou então não mostrava-se presente.

A sexualidade e o ego não se ajustam, pois o prazer está no id, na busca eterna de algo que satisfaça a vontade do desconhecido, da novidade. O desejo de possuir algo melhor que o outro, sendo que esse outro pode ser o próprio indivíduo, porém, num outro momento de sua vida.

Mesmo trabalhando de maneiras opostos, tanto ido, quanto ego, assim como o superego, são movidos pela mesma energia, a libido, e assim, cada um a ajusta da maneira com que possamos ao menos tentar manter o controle da situação, do desejo, para que todas as atividades necessárias em sociedade possam ser realizadas de uma maneira aceita como padrão.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Mecanismos psíquicos dos fenômenos histéricos



                                                                                    Foto: Reprodução Internet
 

- Neurose de histeria


A histeria é vista por Freud como uma patologia após um trauma que gera uma reação física, esta que pode ter um período de incubação até mostrar-se visivelmente presente. O histérico torna-se um indivíduo que sente necessidade de receber atenção, querendo, ao mesmo tempo, curar-se de tal problema físico, porém, continuar a receber determinados cuidados que esta atual deficiência o está trazendo.

Não consegue mais produzir ações que possam trazer modificações para determinadas situações, deixam isso para terceiros, tirando-se assim do “papel principal”. Sabem onde está seu prazer, porém não conseguem distinguir o objeto de desejo, realizando assim muitas transferências. É possível observar também a questão do narcisismo e possessão, onde determinado objeto reconhecido como gerador do prazer é somente meu, o histérico passa a achar-se como dono.

A histeria foi, por muitos anos, uma doença vista como exclusiva das mulheres. Há determinados textos que dizem que a histeria provém de um determinado problema no útero. O tempo passou, os estudos se aprofundaram e pode-se detectar sintomas semelhantes em homens. Estes que foram chamados de histriônicos.

Dentro do conceito surge a “histeria de conversão”, onde o paciente passa a sofrer com problemas psicossomáticos. Não somente “delira”, como seu corpo passa a sofrer seus males psíquicos como um “escape” amenizador do surto. Como relatado em “Freud, Além da Alma”, sua paciente Cecília sofreu, por um determinado período, de cegueira e paralisia, sem apresentar propriamente nenhuma explicação física para tais males. A cegueira representa seu medo inconsciente de não querer ver determinadas verdades, bem como a paralisia, não querer caminhar até a verdade.


- Neurose ansiosa – insegurança/ angústia


Geralmente está relacionada a estímulos externos, em momentos de grandes decisões ou escolhas, o medo do desconhecido. Pode ser acompanhada de ataques de pânico e quadros fóbicos em momentos inesperados, que não estejam acompanhados de um risco iminente.

Costuma deixar o paciente inquieto, irritado e com insônia, sendo acompanhada de taquicardia e cefaleia. 


- Neurose fóbica – medo


Pode-se citar um exemplo muito atual desta neurose, a agorafobia. Pavor de estar em um ambiente lotado ou deserto.  Num mundo onde muitos sentem-se mais seguros dentro de suas casas e fazendo amizades virtuais, ao deparar-se com um aglomerado de pessoas, principalmente, necessitar apresentar-se a elas, falar com elas e prender suas dispersa atenção disputada por diversos estímulos, como o celular (que hoje possui infinitos atrativos). Voltamos assim, neste mesmo exemplo, para o caso da agorafobia, uma maioria prefere manter seu foco no mundo virtual, no que parece distante, do que enfrentar sua realidade.

Para ilustrar melhor a próxima neurose, o conhecido TOC, um vídeo - em espanhol, mas acredito que seja possível compreender sua mensagem central: http://www.youtube.com/watch?v=kphCSailkOc


- Neurose obsessiva – TOC (Transtorno obssessivo compulsivo)

Necessidade de repetir determinados rituais para sentir-se seguro, pode ser caracterizado pelo medo da morte – por isso a criação de rituais de proteção.

O medo consciente faz com que sigamos a vida em segurança, tomando os devidos cuidados diante da sociedade atual, já os medos inconscientes, além de paralisantes, são medos, aparentemente, sem justificativa, pois se dão de algo que não apresenta risco nenhum, por exemplo, fobia de barata. Muitos têm nojo, asco do bicho, mas na verdade, sabem que nada sofrerão. Já o medo inconsciente, fantasia e a vive, de que tal animal pode lhe transmitir alguma doença, e assim, é preciso limpar infinitas vezes o local ao qual ele passou.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Freud, Além da Alma - O filme

                                                                        Foto: Reprodução Internet


O filme “Freud, Além da Alma” (de 1962) retrata as dificuldades encontradas pelo médico, inclusive os pré-conceitos internos, enquanto buscava aprofundar-se nos mistérios da mente humana. Ao definir que o homem é regido por seu inconsciente, Freud é comparado a Darwin, devido tamanha descoberta – assim como o homem veio do animal (macaco). O inconsciente então passa a ser visto como o lugar mais escuro da mente humana.

Ao conhecer casos de histeria, confrontou sua atual interpretação, como um fingimento, algo sem terapia. Foi neste momento em que sentiu a necessidade de abandonar tudo que conhecia e havia construído até o momento, com muito esforço de seus pais, e foi em busca de mais conhecimentos com Charcot – aí teve conhecimento sobre a prática da hipnose. 

Para quem quer assistir, o filme está disponível, com legendas em português, no Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=UH9F4wTgt2M


Ao aprofundar o contato com a hipnose proposta de Charcot, viu que pensamentos são construídos mesmo enquanto o indivíduo está dormindo. Após o despertar, percebe-se a perda de memória, o paciente não recorda do que falou ou de seus atos motores, volta a ter sua patologia, que durante a hipnose, havia sido curada. Durante este processo é percebido o poder da palavra, da confiança durante a hipnose.

Com esta experiência de aceitar comando enquanto está “dormindo”, Freud conclui que os pensamentos estão num âmbito não consciente. Ao apresentar estas teorias, conhece Dr. Breuer, praticamente o único presente que não achou Freud um louco. Os dois passam a manter contato e após novas sessões de hipnose têm novas descobertas, assim como o fato de reviver o incidente faz o sintoma sumir. Observam também que o trauma não divide a mente, mas manda o fato para o inconsciente. É reconhecido também que a emoção é descarregada por uma ação física.

Após todas estas descobertas, decidiu levar a prática até o hospital, confrontando seu professor, sendo assim, obrigado a se afastar do cargo. Não desistiu da hipnose, muito pelo contrário, levou ela ainda mais a sério, em busca de provas concretas de que poderia curar casos de histeria através dela. Seu número de pacientes e casos avaliados foi aumentando, assim como suas descobertas. Uma das mais importantes foi o fato de observar que existe uma barreira entre consciente e inconsciente que “filtra” informações.

Neste caminho, depara-se com o caso de um jovem que sente-se ameaçado pelo pai, que acredita que o pai é um monstro por ter estuprado uma menina. Durante a hipnose, o garoto relata em detalhes e Freud observa que, para o jovem, o estupro é na verdade a relação com a mãe. É dada aí a largada a grande polêmica do “Complexo de Édipo”. O fato é tão novo, que até Freud se surpreende, e ao despertar o paciente, não deixa com que ele lembre de nada e não o atende mais, fica atordoado com o caso.

O acontecido vai parar nos sonhos de Freud, o que faz com que se coloque no lugar do garoto e busque, em seu inconsciente, numa autoanálise, o porquê de seu “pavor” pelo caso. Descobrindo que, no passado, sofreu do mesmo complexo, desejando sua mãe. Ao relatar o caso estudado a Breuer, é repreendido, incentivado a ignorar a patologia descoberta.

Após grande resistência, e sua descoberta interior, Freud procura novamente o garoto para tentar ajudá-lo a resolver seu complexo. Descobre então que este foi internado num manicômio e lá acabou falecendo, recebendo assim, em sua frustração por não ter feito nada para evitar o trágico fato, estímulo para dar continuidade a teoria e a apresentá-la ao grande público.

Com o “Complexo de Édipo”, encontrou a sexualidade e defendeu sua liberdade de expressão. Recorreu à paciente Breuer, Cecília, em busca de provas para a teoria. Após hipnotizá-la novamente, descobriu que sua patologia, o fato de não enxergar, deu-se por não querer ver o fato de seu pai ter morrido num bordel. Seu inconsciente transformou a estrutura do local num hospital para que ela não esquecesse do fato, mas não o compreendesse da maneira como aconteceu. Após esta hipnose, Cecília volta a enxergar.

A paciente então passa a ser de Freud, pois Breuer resolve abandoná-la para preservar seu casamento, já que o amor pelo pai foi transferido ao doutor. Uma nova patologia física desenvolve-se na paciente. Após a ausência de Breuer, ela passa a acreditar que está grávida e a apresentar os sintomas de parto.

Freud também passa por dificuldades em sua vida pessoal, a morte do pai e os questionamentos de sua esposa sobre seus métodos com seus pacientes. Isso faz com que desencadeie mais sonhos nele, fazendo-o questionar seus significados, tratando-os como ideias que escapam da repressão.

Leva até Cecília mais uma nova descoberta, a interpretação dos sonhos. Por resistência da paciente, ele não consegue hipnotizá-la, mas tem neste momento a grande descoberta da associação livre, onde mesmo em estado consciente, ela consegue relatar fatos antes esquecidos por ela. Descobre então que sua relação com seu pai envolve um estupro, não aceita a descoberta, sentindo-se culpada pelo ato. Ao tentar buscar uma resolução para o caso, Freud se aproxima da mãe de Cecília e descobre que ela era dançarina de cabaré e desejou a morte do feto.

Freud encontra uma semelhança entre ele e Cecília, acredita que seu pai estuprou a irmã, onde na verdade, aceita que ele deseja sua mãe. Após mais uma vez ser desencorajado por Breuer a dar continuidade a teoria da sexualidade, encontra apoio em sua esposa, que ao ver seu esforço nas novas descobertas, o incentiva a seguir seu caminho. Assim, apresenta sua teoria em público e mais uma vez é taxado de louco, inclusive por Breuer, que diz nunca ter acreditado nela.