quinta-feira, 24 de abril de 2014

Casos clínicos: O pequeno Hans e o Homem dos Ratos



Imagem: Reprodução Internet

Para tratar as súbitas fobias de animais do pequeno Hans, com apenas três anos de idade, Dr. Freud, que realizou grande parte do tratamento através de cartas trocadas com o pai do garoto, utilizou-se da interpretação dos sonhos.
Hans desenvolveu, ao longo do tempo e acontecimentos, uma curiosidade pelo falo, cujo ele chamava de “pipi”. Mesmo muito pequeno, descobriu que ao tocá-lo, sentia prazer. Um prazer inocente, sem a malícia presente nos adolescentes e adultos, onde há o desejo consciente. Ao ser surpreendido por sua mãe durante o ato de toque em seu pipi, ela o repreende e o ameaça, a castração. A partir deste momento, sua curiosidade para com o “pipi” só aumenta, e não somente pelo seu, mas sim, pelo dos outros, aqueles de seu convívio, seus pais.
Ao acompanhar com maior rigor o comportamento do filho, os pais, principalmente o homem, percebe a necessidade do filho em, muitas vezes, dormir junto de sua mãe, trocando de quarto, de papel, com seu pai, se tornando o homem da casa. Durante este acompanhamento com o Dr. Freud, nasce o segundo filho do casal, uma menina. O fato faz com que as fobias de Hans se acentuem, pois ele já não possui toda a tenção da casa como anteriormente.
Hans passa a sentir-se amedrontado ao sair de casa e deparar-se com cavalos, comuns pelas ruas da época, utilizados em carroças e charretes. Logo em seguida, ele relata seu sonho, com duas girafas, uma delas amassada. Em seu sonho, ele se senta sob a outra girafa, esta que estava fazendo um barulho muito alto, e a cala.
E ao relatar pessoalmente o caso ao Dr. Freud, o psicanalista, já conhecendo parte do caso de Hans, interpreta o sonho do garoto como as girafas sendo seus pais, a mãe é a girafa murcha, em relação ao seu órgão sexual, e a girafa normal, viril, seria seu pai. O grito representa a repreensão de seu pai quando busca a atenção da mãe. Sentar-se sob ela seria vencê-la.
Sobre o medo dos cavalos, Hans relata em detalhes que possui medo dos olhos e do cabresto utilizado pelos cavalos. Freud interpreta que o cavalo representa seu pai, os fortes traços masculinos no rosto, representados pela barba e bigode. Hans também revela que tem medo de que os cavalos caiam, pois já presenciou uma cena destas. O medido então, mais uma vez, identifica o complexo de Édipo, onde o filho gostaria de ver a queda do pai, para que ele possa ocupar o posto ao lado de sua mãe como único homem do lar.
Posteriormente, o complexo se mostra mais presente, onde pai e filho conversam e o filho revela que sonhou em ter filhos e que a mãe deles era sua própria mãe. O papel do pai foi apagado, transformando-o em avô das crianças, juntamente com sua avó. Ao mostrar-se firme ao lado do filho, acompanhando as neuroses e fobias, o pai fez-se presente, afirmando seu papel de cuidador de Hans e de marido da mãe do garoto.
Delicadamente, Hans voltou a sentir-se a vontade nas ruas da cidade e seus sonhos com as girafas não mais se repetiram. A presença masculina forte ao lado de Hans, fez com que o complexo de Édipo fosse superado.

 
Ao abordar o caso do “Homem dos Ratos”, podemos ver algo diferente do caso do pequeno Hans, onde um homem adulto, aos 30 anos, ainda sofre por casos mal resolvidos em sua fase infantil. Aos 30 anos, o rapaz procura Freud e, em 11 meses de terapia, conta inúmeras histórias que parecem dar voltas sem fim, até que, após transferir para o psicanalista seu real sentimento, a  verdade prevalece.
O rapaz procura Freud e conta uma história que o deixou incomodado, posteriormente, descobre-se que esta história foi o estopim para trazer de volta ao seu consciente todo seu sofrimento. Ao conversar com um oficial sobre castigo, este o relata um castigo envolvendo ratos. Após esta conversa, o rapaz imaginou seu pai e sua amada sofrendo este castigo. Algo inaceitável, pois ele amava seu pai e tudo o que mais queria era protegê-lo.
Quanto mais a fundo o paciente permitia que Dr. Freud atingisse seu inconsciente, mais patologias ele foi desenvolvendo – começou a desenvolver rituais onde, por exemplo, em um dos horário com Freud, ao relatar um fato com sua amada, ele precisava contar até 40 para que nada de mau lhe acontecesse.
Freud busca na infância os desejos reprimidos do jovem, órfão de pai, que não aceita seu falecimento e não consegue dar conta de sua vida – levando nove anos para se formar em direito e logo após adoecendo, fazendo com que ele não pudesse trabalhar.
A figura materna não aparece nos relatos do rapaz, somente duas mulheres são ressaltadas em sua infância, duas governantes, que ele desejava, inclusive, uma delas, lhe permitiu que observasse e tocasse seu corpo, reavivando ainda mais a sexualidade do menino de seis anos.
Aos poucos, o rapaz vai se permitindo durante a terapia, aceita olhar para seus medos e para os acontecimentos não aceitos. Freud mostra a ele a tênue linha entre amor e ódio, desejo e repúdio. Na realidade, o rapaz sentia um ódio incontrolável do pai, porém, sublimou este sentimento, transformando-o em amor, algo aceito socialmente.
Durante sua infância, o menino foi surrado e em sua adolescência, o pai tentava arranjar um casamento entre ele e uma prima rica. Assim, o pai buscava fazer com que o filho tomasse jeito, não se tornando um criminoso, um rato.

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