terça-feira, 29 de setembro de 2015

A psicanálise de Lacan

                                            Imagem: Reprodução Internet

Apesar de hoje existir várias correntes psicanalíticas – inclusive uma delas intitulada de Lacaniana – Lacan, ao entrar no mundo da psicanálise, propôs uma retorno à Freud. Assim como o pai da psicanálise havia dito, suas teorias não estavam fechadas, a psicanálise, assim como o indivíduo, está em constante mutação – a partir dos conhecimentos e experiências novas. Assim, Lacan, pode-se dizer, que aprofundou determinados termos psicanalíticos, não os modificou.

Assim como Freud, Lacan se formou em medicina. Suas principais contribuições para a psicanálise – apoiado da linguística de Saussure e na antropologia de Strauss - são os conceitos sobre sujeito, imaginário, simbólico, real e significante.

No setting de análise, Lacan propõe algo diferente, ele apresente a necessidade de um analista mais falante, um profissional que pontue a fala do paciente, mesmo que ela pareça, inicialmente, vazia. Esta interferência dará início ao sentido do discurso, através da linguagem de ambas as partes. Lacan também traz de Freud a resistência durante a análise, ela surge quando está para ser revelado o conteúdo recalcado para o inconsciente, daí surge a transferência, onde o paciente busca manipular – através do amor ou do ódio – o andamento da análise e as pontuações e inferências o analista.

Ao atingir o inconsciente, em Lacan, a função simbólica, está liberto o canal para os dilemas passados, como o Complexo de Édipo – é através dele que a criança compreende seu papel, desvincula-se dos pais e passa a compreender-se como um indivíduo a parte, inserido em um meio, porém, como uma unidade. Este processo semelhante ocorre na análise, onde a contra-transferência faz com que a transferência seja rompida e o paciente volta-se ao seu papel e ao setting, não mais em sua fantasia ou vivência passada, nem em seu desejo “consciente” proposto pela resistência/ transferência.

Para Lacan, o objetivo da análise é dispensar o sujeito da necessidade de explicar-se, que sustenta sua fantasia. Um pensamento semelhante ao de Freud, já que ambos, mesmo que utilizando linguagens diferenciadas, pode-se compreender – a partir, também, da linguagem e interpretação de quem s lê – buscam a liberdade do sujeito, não somente ele mesmo, mas também, perante a sociedade – uma espécie de sociedade livre.

Reforçando a diferença entre liberdade e libertinagem – visto Sartre. Um sujeito livre, com suas faculdades mentais aptas a fazer escolhas propostas pela psicanálise – se não atingirei o outro com minha ação e ela não me afetará de maneira dolorida, posso realizar determinada ação.

O Superego externo criado na época das cavernas só vem se aprimorando – passou pela Igreja, pela política e hoje, pode-se dizer, que está no poder. Fala-se aqui do poder da palavra, mais uma vez enfocando a linguagem. O poder de interpretação interna e de a força que possui uma externalização de palavras, ou de atitudes vistas como de coragem, seja para fortalecer ou enfraquecer uma massa ou um único indivíduo.

Os dizeres de Lacan foram utilizados para separar uma massa de psicanalistas, curiosamente, aqueles que vieram de Freud – um revolucionário e lutador pela liberdade interna do sujeito – condenaram Lacan por agir da mesma forma, buscar a liberdade de seus estudos, seus pensamentos e ensinamentos.



terça-feira, 22 de setembro de 2015

Os três principais passos da análise

                  Imagem: Reprodução Internet

Freud, após formar-se em medicina e fascinar-se pela hipnose, deu início ao que hoje chamamos de psicanálise. O médico não pretendia criar algo novo, foram as circunstancias dos atendimentos clínicos que fazia que o obrigaram a desenvolver técnicas novas – já que seu objetivo era realmente ajudar e curar aqueles pacientes que o procuravam.

A teoria de Freud deu-se a partir das observações clinicas e através de seus escritos clínicos – ele possuía um vasto arquivo de anotações que fazia durante as consultas. Após elas, reunindo as informações já obtidas e as novas, formulava-se uma teia, onde uma informação complementava a outra. Os relatos são feitos a partir da sensibilidade do profissional e conhecimento do paciente – com o passar das sessões, o analista já tem uma certa base do caso e já compreende quais os dizeres contribuirão para o insight – deixando claro que todo o material de escuta é, de alguma maneira, utilizado, tanto para o profissional quanto para o analisando.

Diferentemente de muitos tratamentos, a queixa inicial, a doença, não é o foco da psicanálise e sim o indivíduo. A psicanalise busca a origem do problema, os motivos pelos quais ele sofre por determinada situação ou o porquê foi acometido por tal doença. Estes escritos em conjunto dão origem a metapsicologia do analisando.

Um estudo de caso, a partir dos escritos em análise consiste em três momentos: foco na doença – queixas e sintomas, descrição da história – a partir da relação entre analista/ paciente (transferência) e, por fim, a construção teórica – onde une-se aos primeiros dois passos a interpretação por parte do profissional.

Nas anotações do analista estão, além da fala do paciente, a não fala, como esquecimentos, momentos de silêncio, choro, alterações no tom de voz, chistes e reações corporais. Partindo do princípio de que a fala precisa burlar a barreira do recalque para que consiga relatar um determinado assunto em detalhes, o corpo consegue transparecer, de uma maneira, que, naquele momento, determinada situação está sendo desagradável, pois está gerando desconforto e dor ao tentar relatar, recordar, algum fato.

Sobre a transferência, ela costuma ocorrer no segundo momento da análise, onde a queixa foi, de alguma forma, externalizada, trazida para o consciente, e o paciente passa a reviver seu passado, seu sofrimento, porém, ainda de maneira não tão clara, assim, tende a transferir os sentimentos passados para o analista – podendo acreditar amá-lo ou odiá-lo. Uma análise bem conduzida necessita da transferência e também da contra-transferência, onde o profissional conduz a relação e consegue trazer o paciente ao insight, fazendo com que o sentimento seja direcionado ao real causador dele.


Após o insight, em seu último momento, a análise busca ressignificar o fator gerador da doença ou da dor. Agora consciente, o analista pode manter um diálogo aberto, maduro, onde o sofrimento está sendo experienciado de uma maneira diferente, pois, agora, o indivíduo não se encontra mais só, está acompanhado e seguro junto da figura do analista – daí a contra-transferência.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

O Ego e o poder do Outro

                                           Imagem: Reprodução Internet

A palavra Ego, no senso comum, é normalmente aplicada quando se faz referência ao mais íntimo de um indivíduo. Na psicanálise é semelhante, porém, muito mais complexo. O Ego trabalha juntamente com o Id e o Superego. É dele a tarefa de mediar os desejos e proibições. Enquanto o Id nasce com o indivíduo e representa seus desejos, o Ego e o Superego – este segundo, principalmente – são constantemente transformados a partir das experiências sofridas pelo indivíduo.

O Ego inicia sua formação, e sua parte mais importante – sua base – logo na infância, por isso a fase necessita de tamanha atenção. Atenção não é sinônimo de superproteção e excesso de amor. Desde a infância o indivíduo, no caso, a criança, precisa vivenciar diversos tipos de experiências, sejam elas prazerosas e desprazerosas. Algumas são da natureza humana, como, por exemplo – a partir de Melanie Klein, a descoberta de que ela e sua mãe não são um único ser e o ato de alimentar-se, que, apesar da ajuda de um outro, a atividade depende do próprio indivíduo que busca saciar sua fome.

Muitos pais e cuidadores buscam evitar a frustração nas crianças, porém, estas tendem a crescer adultos infantis, afinal, somente na fase seguinte, a adulta, estarão sujeitos a experiências que lhes foram privadas na infância, assim, ele tende a manter uma visão infantil dos ocorridos, afinal, são algo novo para ele.

A partir da formação do Ego, o indivíduo passa a considerar-se um indivíduo real, separado dos demais integrantes de sua família. Para este processo, é necessária muita atenção durante o momento de castração – complexo de Édipo – independente do filho homem ou mulher. Ambos devem estar cientes do papel o qual cada um representa na instituição familiar.

Perante as novas formulações de família, há certas diferenças, porém, estes papeis sempre existem. No caso, o pai é a figura castradora, aquele que faz o rompimento da criança com a mãe, aquele que se coloca entre a relação dos dois. Não, necessariamente, a figura do pai precisa ser um homem, nem, tão pouco, a figura da mãe precisa ser a genitora. Apenas, naquela estrutura familiar, os presentes necessitam assumir determinados papeis.

A ausência de Ego ou um Ego frágil, pode tornar um indivíduo psicótico ou neurótico. Ao não ter sofrido esta ruptura da castração, ele não é inserido na realidade, assim, acredita que tudo pode, não tendo desenvolvido sua capacidade de aceitação a normas externas. Bem como, o Ego frágil torna-se suscetível a interiorizar um Ego externo, aceitando, facilmente, ter sua subjetividade ignorada e passar a acreditar no Outro.


Freud aborda a figura do Outro, neste caso, como aqueles sujeitos que se destacam em grandes massas através de seus discursos – seja ele político ou religioso, por exemplo. Enquanto os seguidores, aqueles que acreditam em dizeres milagrosos sem nenhum fundamento ou aplicação a realidade na qual está sendo pregado, são aqueles que possuem um Ego frágil, incapaz de acreditar e confiar em suas próprias escolhas, necessitando de um ditador externo para ordenar suas atitudes e posicionamentos.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

O assassinato do Ego


                                           Imagem: Reprodução Internet

Uma das principais razões motivadoras para o suicídio é a depressão. Ela atinge diretamente o Ego do indivíduo, fazendo com que ele se anulo, tornando-se, assim, o principal culpado por todo o estado psicológico e físico do depressivo. Encontrando-se nesta situação, a única saída, é aniquilá-lo, ou seja, o suicídio. Esta é vista por muitos como a única saída para acabar com a dor, o sofrimento, o luto, a melancolia, que o acomete e, a partir da inutilização do Ego, ele passa ver a si próprio como o culpado.

O luto e a melancolia podem ser produtores de fatores depressivos que, podem ou não, acarretar uma depressão. O luto, apesar de ser popularmente utilizado quando há a morte de um ente querido, na psicanálise, seu significado vai além. O luto refere-se a morte, ao fim, seja de uma pessoa, ou uma relação devido um afastamento, uma situação de bem-estar que não pode mais ocorrer. O indivíduo precisa aprender a lidar com esta perda, é necessário viver este período de readaptação a falta e, posteriormente, substituir de modo saudável este “objeto” conscientemente.

Em muitos casos, o período de luto não é respeitado, não há a superação da fase da aceitação, então, a situação é ignorada, como se não existisse. Desta forma, a falta é sublimada, sua energia libidinal passa a ser deslocada para outro objeto e o prazer, de forma consciente, volta a existir. Porém, este processo costuma ser útil por um período, logo tende a iniciar as neuroses perante o objeto substituto, principalmente, e pode aparecer a culpa pelo objeto perdido – tanto por não ter sido capaz de mantê-lo vivo, quanto a incapacidade de aceita-lo morto.

Para Dukheim, o suicídio é um fator social. Sua visão reforça parte da teoria de Freud, onde, em o Mal-estar na sociedade, o pai da psicanálise deixa claro que o indivíduo sofre, durante toda sua vida, influencias externas e as introjeta conforme sua interpretação – que também está em constante crescimento e mutação, a partir destas novas experiências e conhecimentos que vai adquirindo. Assim, estando vivendo em uma sociedade onde a morte através de suicídio é vista como um pecado contra Deus, este sentimento pode fazer com que seu medo aumento e, seja ainda propício o suicídio, pois, estou tendo estas ideias, estes pensamentos e desejos, já sou pecador, estou cometendo mais um erro, então, preciso colocar um fim a esta sequência de erros.

Bem como o luto daqueles que cercam o suicida será vivido de uma maneira diferente, velada, onde não se pode ter pena de um pecador e, paralelo a isso, há a cobrança em amar o próximo, principalmente se este for de seu sangue. Mais uma vez, de uma maneira simbólica e “discreta”, a religião está ligada a psicanálise, ao sofrimento.

Enfim, assim como muitos transtornos psíquicos podem ser evitados e, se não, tratados, o suicídio pode ser evitado. O indivíduo que está sofrendo sofre diversas alterações de comportamento – seja demonstrando sua depressão ou a escondendo e somente apresentando uma felicidade extrema. Cabe aqueles que o cercam observar com um olhar único e sensível. Seguindo com a citação da religião, um olhar de amor ao próximo, mas não segmentando uma única religião, e, sim, a base – que na maioria das vezes é invertida – o amor, sem olhar a quem, sem julgamentos ou preconceitos. O depressivo dificilmente aceita seu estado, por isso necessita de ajuda – tanto psicológica quanto medicamentosa. Em muitos casos, somete a utilização de um deles não é suficiente para a cura.



terça-feira, 1 de setembro de 2015

Fatores depressivos

                                             Imagem: Reprodução Internet

A depressão é considerada um transtorno de humor, porém, este pode levar a morte – pois acarreta, com o tempo, problemas físicos, principalmente devido o descaso e desleixo com si mesmo. De uma maneira inconsciente – e as vezes consciente – o depressivo busca a morte e/ ou o suicídio, através de uma tentativa efetiva ou “buscando” com que uma doença o acometa e não a trate devidamente.
Os sintomas de depressão são muitos e o diagnóstico é dado a partir de uma combinação deles – o que acaba variando de um indivíduo para o outro. Um período de tristeza profunda nem sempre é considerado depressão. Enfim, podemos citar como sintomas da depressão: ansiedade, distúrbios do sono, cansaço, falta de concentração, tristeza, desamparo, desesperança e, como já citado, pensamentos de morte – seria o desejo de Tanato, pôr fim ao sofrimento que não está sendo superado, assim, a única maneira, é exterminar o indivíduo, junto e criador de sua dor.

O surgimento da depressão também não segue uma regra, muito menos pode ser associada a somente um único fator – existe sim um fator determinante, um gatilho para seu surgimento, porém, ela costuma acometer o indivíduo aos poucos, iniciando, geralmente, por um fator associado a perda – seja de um objeto, pessoa ou situação. Na era atual, do capitalismo, por exemplo, não é raro encontrar depressivos que estão nesta situação devido sua questão financeira – visando a crise em que o Brasil vive hoje e que já foi enfrentada nos últimos anos por países como EUA, Grécia e Argentina. A situação contrária também é corriqueira acontecer, o indivíduo se esconde atrás de sua confortável situação financeira, bem como, acaba sendo procurado pelos que lhe cercam somente, ou principalmente, por esta “qualidade”.

Neste exemplo citado, a combinação para o surgimento da depressão foram os fatores sociais e psicológicos. Há participação da sociedade quanto do próprio indivíduo para seu sofrimento. A sociedade ofertou uma condição financeira que, posteriormente, não havia condições de ser mantida. Bem, como, o indivíduo colocou-se em uma necessidade da qual não mais poderia arcar – os bens materiais, o conforto, o luxo, tornaram-se prazeres indispensáveis, seja para o próprio Ego ou para aqueles que lhe cercam.


Outro fator que influencia no surgimento da depressão é o fator familiar – tanto no fator biológico quanto na questão de convivência. Existem casos em que a depressão está na genética, porém, muito acredita-se que nem sempre ela é desencadeada, precisando, assim, de um dos fatores citados anteriormente para que haja combinação e sim faça com que ela surja. É, mais comum, a família interferir nesta questão sob o olhar da convivência familiar, a atmosfera familiar. Um indivíduo que está cercado por pessoas depressivas, deprimidas, tristes, está mais suscetível a agir da mesma do que conseguir vencer a maioria e tornar-se ou manter-se saudável. Neste caso, todos os envolvidos devem ser tratados, direta ou indiretamente.