terça-feira, 25 de agosto de 2015

Marquês de Sade a partir de Freud

                                                                                         Imagem: Reprodução Internet

            O termo sadismo tem origem aos contos escritos pelo francês Donatien Alphonse François de Sade, mais conhecido como Marques de Sade, na segunda metade do século de 1700. Preso por inúmeras vezes, ele relatava em seus contos diversas experiências e fantasias sexuais, além de críticas à política e à religião. Sade foi preso por diversas vezes e viveu seus últimos dias em um manicômio.

Visto como louco para a época, sua obra serviu como influência para o surrealismo e a psicanálise. Sua visão era um pouco semelhante a de Freud, principalmente para a época em que viveram, ambos podem ser considerados revolucionários pela sua coragem em expor seus pensamentos perante os rígidos métodos utilizados para aqueles tidos como opositores.

Para Sade, [1795] 2003: 134:

"Todo princípio é um julgamento, todo julgamento é o efeito da experiência, e a experiência só se adquire pelo exercício dos sentidos; de onde se segue que os princípios religiosos, evidentemente, não se assentam sobre nada e de modo algum são inatos". Partindo da fala de Sade, todos os religiosos, sem especificar uma única religião, tendo visto que há diversas espalhadas pelo mundo, necessitam de uma experiência de vida e, além disso, durante seu discurso, sua pregação, deixam, ora implícito, ora explicito, suas experiências, aquilo que fez com que ele chegasse até este patamar de compreensão religiosa.

Freud também foi crítico da religião, lembrando que ele teve boa parte de seus livros queimados em praça pública por ordem de Adolf Hitler e precisou se refugiar na Inglaterra, mais precisamente em Londres, para garantir sua segurança e de sua família. Para Freud, “um homem que está livre da religião tem uma oportunidade melhor de viver uma vida mais normal e completa”. Acreditar em uma religião, para os mais tementes, é seguir seus mandamentos, pensamentos, ordens, exigências. Acreditar em algo e segui-lo deve ser uma escolha muito pessoal e consciente para conhecer os deveres e prazeres oferecidos e permitidos.

Fazendo uma breve associação entre os dizeres de Sade e Freud, fica mais claro o controle que a religião busca desde seu início. O poder perante o controle do indivíduo e, por fim, da massa que consegue abranger. O ser humano, a partir da tópica de Freud, já nasce com o Id formado e busca o prazer. O Superego é formado para controlar esta busca por prazer. A religião, além de auxiliar na formação do Superego, é, também, uma espécie de Superego externo, este que, caso o Ego do indivíduo não seja forte, acaba aniquilando-o e tomando seu lugar, assim, além do próprio mecanismo interno, há uma força externa que limita e, muitas vezes, proíbe os desejos do Id. Um exemplo disso é a religião islâmica, a dor, a falta de prazeres é tão grande que o indivíduo acredita na teoria de tornar-se um assassino-suicida para, enfim, encontrar o paraíso repleto de virgens a sua espera.

Para a psicanálise, Sade praticava e deseja diversas parafilias além do sadismo e do masoquismo, ele relatava muitos prazeres relacionados a sujeito, o desejo fétido. A psicanálise busca a cura através das palavras, através das palavras ditas pelo próprio individuo, por isso a terapia é feita individualmente. A linguagem, a compreensão e interpretação é pessoal e intransferível, inaplicável o mesmo insight em mais de um único paciente.

Não há [...] nada de essencialmente bem e nada de essencialmente mal; tudo é apenas relativo a nossos costumes, a nossas opiniões e a nossos preconceitos. Estabelecido esse ponto, é extremamente possível que uma coisa, perfeitamente indiferente em si mesma, seja, entretanto, indigna a vossos olhos e muito deliciosa aos meus, e, contanto que me agrade, dada a dificuldade em lhe designar um lugar justo, contanto que me divirta, não seria eu um louco se dela me privasse apenas porque vós a censurais? (Sade, 2008: 264).

Sade reforça o discurso de Freud, muito diferente do pregado pela religião. Para os autores, cada indivíduo possui discernimento para suas buscas e encontros, assim, não deve haver interferência direta em suas atitudes, o outro não tem o direito que impor proibições sendo que estas não o afetariam. Porém, sabemos que, para a psicanálise, existe sim interferência nas decisões quando estas não costumam ser bem aceitas socialmente – seja no âmbito micro ou macro das relações sociais. Conforme já citado, o Superego é formado através destas interações indivíduo-meio.


Um ponto, talvez o mais importante deles, onde os autores divergem, é na questão da pedofilia, "quem tem o direito de comer o fruto de uma árvore certamente poderá colhê-lo verde ou maduro" (Sade, [1795] 2003: 150). Enquanto, para Freud, a criança não possui a mesma visão e interpretação sexual que o adulto, ela busca sim prazer, porém, de uma maneira única, ainda infantil. Assim, a psicanálise considera a pedofilia como uma prática não aceitável, tendo visto que é praticada por um sujeito adulto, consciente de seus atos e uma criança, ainda em formação de suas instâncias psíquicas que futuramente controlaram sua busca por prazer – Id, Ego e Superego.